As Ordens Militares Religiosas
As origens das Ordens Militares Religiosas remontam à Idade Média, no tempo das grandes cruzadas. Após a tomada de Constantinopla, pelos Turcos, em fins do século XI, o Papa Urbano II [de 1088 a 1099], alarmado com a situação de perseguição e violência contra os fiéis, decretou, no Concílio de Clermont, a conquista da Palestina.
«Jerusalém fora tomada pelos turcos seijúcidas em 1078.
[Antonio G. Matoso, História de Portugal, Lisboa, 1939, vol. I, 72].
As violências e os vexames a que estes povos muçulmanos começaram sujeitando os peregrinos, que, de toda a Europa, se dirigiam à Terra Santa, para visitar os lugares santificados pela paixão e morte de Cristo, produziram nas almas piedosas daquela época uma profunda emoção, que deu origem às Cruzadas.
Estas expedições, religiosas e militares ao mesmo tempo, nas quais tomaram partequase todos os países europeus, sucederam-se, com intervalos mais ou menos longos, dos fins do séc. XI aos últimos anos do séc. XIII. Umas fizeram-se por terra; outras por mar.»
Reuniram-se cerca de 600.000 (seiscentos mil) pessoas, formando um exército monástico-militar, que, em nome da religião católica, partiram em direcção a Constantinopla. Traziam no peito, cosido sobre as vestes, a cruz-latina, do que lhes valeu serem denominados de CRUZADOS «Este original exército, ou antes, esta colossal romagem constituída pelos elementos mais heterogéneos e mais imprevistos, elegeu para chefe Godofredo de Bouillon, duque da Baixa Lorena, e atravessando o estreito de Bósforo, passou à Ásia Menor, onde tomou Nicêa e Antiochia, e, depois de ser dizimado pela peste, pela fome, pelas intempéries e reduzido a cinquenta mil soldados, conseguiu enfim tomar Jerusalém em 1099
«Senhores da Cidade Santa, os cruzados elegeram para seu príncipe a Godofredo de Bouillon, que tomou o título deRei de Jerusalém, e alguns cavaleiros, alojando-se perto do Santo Sepulcro, aí fundaram uma albergaria ou hospital destinado a agasalhar os peregrinos, ao passo que nove outros cavaleiros se albergaram a uma parte ainda habitável do arruinado templo de Salomão e juraram morrer pela fé e na defesa dos mesmos peregrinos contra os infiéis» [Adriano Mendes Strecht de Vasconcellos, Breve Notícia das Ordens Monástico-Militares em Portugal. Vizeu, Typographia da Província, 1909, pág. 4]
Dos que fundaram o Hospital, próximo ao Santo Sepulcro, deu origem à primeira Ordem Militar, conhecida como dos HOSPITALARES, ou de São João de Jerusalém, de Rhodes ou de Malta. Quanto aos outros cavaleiros que se estabeleceram próximo ao Templo de Salomão, originaram a Ordem dos Cavaleiros do Templo, ou TEMPLÁRIOS.Estas
Ordens, foram divididas em três classes:
Clérigos - àqueles que recebiam ordenação sacerdotal. Estavam encarregados dos serviços religiosos da Instituição;
Irmãos leigos - representavam o papel dos escudeiros; e
Cavaleiros - formavam o exército combatente da ordem, recrutados, exclusivamente entre os nobres.
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«A ORDEM DOS TEMPLÁRIOS, fundada por Hugo de Payem, em Jerusalém, em 1118, encontrou em S. Bernardo um amigo dedicado. Foi este luminar da Igreja que fez a sua propaganda no Ocidente, através do seu escrito intitulado «De laude novæ militiæ».
O Papa Inocêncio II criou no concílio de Pisa de 1135 confrarias encarregadas de reunirem fundos para o seu sustento, e tomou-a sob a sua protecção em 1139, por meio da bula «Omne datum optimus». Os seus monges adoptaram o hábito branco dos cistercienses, ao qual juntaram, mais tarde, como distintivo especial, uma cruz vermelha sobre o manto.»
«A ORDEM DOS HOSPITALARES, originada numa obra protectora dos enfermos, que recebera regra do Papa Pascual II em 1113, teve como a dos Templários, a sua origem em Jerusalém. Quando Saladino tomou esta cidade aos cristãos em 1187 estabeleceram-se em Chipre. Em 1310 conquistaram a Ilha de Rodes e passaram a chamar-se «Cavaleiros de Rodes». Alí permaneceram em guerra contra os turcos até 1522. Pouco depois obtiveram a ilha de Malta, tomaram o nome de «Cavaleiros de Malta» e continuaram a luta contra os muçulmanos da África até serem esbulhados da sua posse por apoleão em 1798.» Entre 112 e 1128 a rainha D. Teresa teria concedido aos freires desta Ordem o Mosteiro de Leça de bailio, sua primeira casa capitular
«A ORDEM DE CALATRAVA, fundada por S. Raimundo, ajudado por outro monge cisterciense, Diogo Velasques, com o fim de defender a cidade fronteiriça de Calatrava contra os ataques dos mouros, foi confirmada em 1164 pelo Papa Alexandre III. Entrou em 1166 em Portugal e estabeleceu-se em Évora, pelo que os seus componentes se começaram chamando «Freires de Évora». Foram senhores do castelo de Alcanede, doado por D. Sancho I, e possuíram bens em Coruche, Benavente, Santarém, Lisboa, Mafra, Alpendriz, Panoias, etc. D. Afonso II doou-lhes em 1211 o lugar de Avis, pelo que passaram a ser conhecidos por «Freires de Avis». Mais tarde a Ordem de Avis tornou-se independente da de Calatrava.».
«A ORDEM DE SANTIAGO DA ESPADA, originada na necessidade de proteger os peregrinos que se dirigiam ao túmulo de Santiago, fundada em Espanha talvez em 1170, entrou em Portugal em 1172. D. Afonso Henriques doou-lhe, segundo parece, a vila de Arruda, Alcácer, Almada, etc. D. Sancho I fez-lhe outras doações, entre as quais se conta Palmela. pelo que, por vezes, aparecem designados por «Freires de Palmelas. [...]
Entre os mestres mais célebres da Ordem de Santiago contam-se Martinho Barregão, que se «houve com tanto heroísmo no cerco de Alcácer, que mereceu os elogios do Papa Honório III, em carta gratulatória aos bispos portugueses, e D. Paio Correia, o herói das conquistas de Mértola, Cacela, Alvor, Ossónoba, Aljezur, Tavira, etc.»
Ambas as Ordens - Hospitalares e Templários - foram admitidas pelo Conde D. Henrique de Borgonha, Senhor do Condado de Portucale, que viria, pouco tempo depois, em mãos de seu filho, o Conde Afonso Henriques, transformar-se num reino próprio e independente do reino de Leão, com o nome de PORTUGAL.
«Não se sabe quando esta Ordem [dos Templários] foi introduzida em Portugal. Em 1128, D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, doa-lhe o castelo de Soure e a «terra deserta e despovoada entre Coimbra e Leiria», onde fundam os castelos de Pombal, Ega e Redinha. Em 1159 D. Afonso Henriques doa-lhes o castelo de Cêras. Em 1160 começaram a construção do castelo de Tomar, para defesa do lugar onde haviam edificado um convento, que se torna a casa mais importante da ordem entre nós.
Os seus bens aumentam constantemente, com doações no Alentejo, as terras de Idanha-a-Velha e Monsanto, o território de Açafa, etc.. Entre os seus mestres mais eminentes figuram o célebre D. Gualdim Pais, D. Lopo Fernandes, D. Martim Martins, etc. Extinta a Ordem em 1312, as suas terras passaram para a nova Ordem de Cristo em 1319»
Em 1212, os Templários foram definitivamente expulsos de Jerusalém pelos Turcos. Refugiaram-se na Europa onde, somente na Espanha e em Portugal, encontraram fins para realizarem os seus compromissos na defesa dos fiéis, por estarem, ainda, estes dois reinos, combatendo contra os invasores árabes.
[Antonio G. Matoso, História de Portugal, Lisboa, 1939, vol. I,83, 85,86, 88,89].
Entre o ano de 711 - quando um exército de cerca de 12.000 homens, comandados por Tárique, invade a Península - e 1270, data da última cruzada, podemos reusmir os grandes acontecimentos, com o seguinte quadro:
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Um comentário:
Pergunto se foi a Ordem de Calatrava (e Alcântara) a entrar então em Portugal ou, quando Geraldo Geraldes entregou Évora a Afonso e este a ofereceu à Ordem do Templo, (que declinou, talvez por ser distante da sua linha defensiva do Tejo), foi a então criada Milícia de Santa Maria de Évora, mais tarde Ordem São Bento de Avis,(para onde transferiram a sede), pressionada pelo Papado a integrar Calatrava, para evitar a proliferação de Ordens na Ibéria (Templo, Hospital, Santiago, ...)além da Teutónica no Norte. Além da óbvia independência de acção, o Superior de Calatrava raramente visitou Avis.
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