quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A Carta de Pero Vaz de Caminha

Descobrimento ou Achamento do Brasil
A Carta de Pêro Vaz de Caminha

Carta a El Rei D. Manuel,

Dominus : 1 de Maio de 1500.


mestre.jpg (15485 bytes)«Senhor, posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer!
Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.

Da marinhagem e das singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza -- porque o não saberei fazer -- e os pilotos devem ter este cuidado. E portanto, Senhor, do que hei de falar começo:

E digo quê:

A partida de Belém foi -- como Vossa Alteza sabe, segunda-feira 9 de março. E sábado, 14 do dito mês, entre as 8 e 9 horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grande Canária. E ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, a saber da ilha de São Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto.

Na noite seguinte à segunda-feira amanheceu, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com a sua nau, sem haver tempo forte ou contrário para poder ser !

Fez o capitão suas diligências para o achar, em umas e outras partes. Mas... não apareceu mais

O Achamento do Brasil
21 de abril de 1500 ( 3ª feira ) 

E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, estando da dita Ilha -- segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas -- os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, e assim mesmo outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam furabuchos.

Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!

Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças. E ao sol-posto umas seis léguas da terra, lançamos ancoras, em dezenove braças -- ancoragem limpa. Ali ficamo-nos toda aquela noite. E quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitura à terra, indo os navios pequenos diante -- por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, doze, nove braças -- até meia légua da terra, onde todos lançamos ancoras, em frente da boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas, pouco mais ou menos.

E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro. Então lançamos fora os batéis e esquifes. E logo vieram todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor. E ali falaram. E o Capitão mandou em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir-se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam dezoito ou vinte.

Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa.

Somente arremessou-lhe um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe arremessou um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas que querem parecer de aljôfar, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza. E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar.

22 de abril 

À noite seguinte ventou tanto sueste com chuvaceiros que fez caçar as naus. E especialmente a Capitaina. E sexta pela manhã, às oito horas, pouco mais ou menos, por conselho dos pilotos, mandou o Capitão levantar ancoras e fazer vela. E fomos de longo da costa, com os batéis e esquifes amarrados na popa, em direção norte, para ver se achávamos alguma abrigada e bom pouso, onde nós ficássemos, para tomar água e lenha.

Não por nos já minguar, mas por nos prevenirmos aqui. E quando fizemos vela estariam já na praia assentados perto do rio obra de sessenta ou setenta homens que se haviam juntado ali aos poucos. Fomos ao longo, e mandou o Capitão aos navios pequenos que fossem mais chegados à terra e, se achassem pouso seguro para as naus, que amainassem.

E velejando nós pela costa, na distância de dez léguas do sítio onde tínhamos levantado ferro, acharam os ditos navios pequenos um recife com um porto dentro, muito bom e muito seguro, com uma mui larga entrada. E meteram-se dentro e amainaram. E as naus foram-se chegando, atrás deles. E um pouco antes de sol-pôsto amainaram também, talvez a uma légua do recife, e ancoraram a onze braças.

E estando Afonso Lopez, nosso piloto, em um daqueles navios pequenos, foi, por mandado do Capitão, por ser homem vivo e destro para isso, meter-se logo no esquife a sondar o porto dentro. E tomou dois daqueles homens da terra que estavam numa almadia: mancebos e de bons corpos. Um deles trazia um arco, e seis ou sete setas. E na praia andavam muitos com seus arcos e setas; mas não os aproveitou. Logo, já de noite, levou-os à Capitaina, onde foram recebidos com muito prazer e festa.

A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita a modo de roque de xadrez. E trazem-no ali encaixado de sorte que não os magoa, nem lhes põe estorvo no falar, nem no comer e beber.

Os cabelos deles são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta antes do que sobre-pente, de boa grandeza, rapados todavia por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte, na parte detrás, uma espécie de cabeleira, de penas de ave amarela, que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui cerrada, que lhe cobria o toutiço e as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena por pena, com uma confeição branda como, de maneira tal que a cabeleira era mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia míngua mais lavagem para a levantar.

O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, aos pés uma alcatifa por estrado; e bem vestido, com um colar de ouro, mui grande, ao pescoço. E Sancho de Tovar, e Simão de Miranda, e Nicolau Coelho, e Aires Corrêa, e nós outros que aqui na nau com ele íamos, sentados no chão, nessa alcatifa.

Acenderam-se tochas. E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a alguém. Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. E também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata!

Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali. Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele. Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados. Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora.

Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora.

Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo.

Isto tomávamos nós nesse sentido, por assim o desejarmos! Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não queríamos nós entender, por que lho não havíamos de dar! E depois tornou as contas a quem lhas dera. E então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir sem procurarem maneiras de encobrir suas vergonhas, as quais não eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam bem rapadas e feitas.

O Capitão mandou pôr por baixo da cabeça de cada um seu coxim; e o da cabeleira esforçava-se por não a estragar. E deitaram um manto por cima deles; e consentindo, aconchegaram-se e adormeceram.

26 de abril ( domingo de pascoela) 

Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. E mandou a todos os capitães que se arranjassem nos batéis e fossem com ele. E assim foi feito.

Mandou armar um pavilhão naquele ilhéu, e dentro levantar um altar mui bem arranjado. E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes que todos assistiram, a qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção.

Ali estava com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saíra de Belém, a qual esteve sempre bem alta, da parte do Evangelho. Acabada a missa, desvestiu-se o padre e subiu a uma cadeira alta; e nós todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação, da história evangélica; e no fim tratou da nossa vida, e do achamento desta terra, referindo-se à Cruz, sob cuja obediência viemos, que veio muito a propósito, e fez muita devoção.

Enquanto assistimos à missa e ao sermão, estaria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos, como a de ontem, com seus arcos e setas, e andava folgando. E olhando-nos, sentaram. E depois de acabada a missa, quando nós sentados atendíamos a pregação, levantaram-se muitos deles e tangeram corno ou buzina e começaram a saltar e dançar um pedaço.

E alguns deles se metiam em almadias -- duas ou três que lá tinham -- as quais não são feitas como as que eu vi; apenas são três traves, atadas juntas. E ali se metiam quatro ou cinco, ou esses que queriam, não se afastando quase nada da terra, só até onde podiam tomar pé.

Acabada a pregação encaminhou-se o Capitão, com todos nós, para os batéis, com nossa bandeira alta. Embarcamos e fomos indo todos em direção à terra para passarmos ao longo por onde eles estavam, indo na dianteira, por ordem do Capitão, Bartolomeu Dias em seu esquife, com um pau de uma almadia que lhes o mar levara, para o entregar a eles. E nós todos trás dele, a distância de um tiro de pedra.

Como viram o esquife de Bartolomeu Dias, chegaram-se logo todos à água, metendo-se nela até onde mais podiam. Acenaram-lhes que pousassem os arcos e muitos deles os iam logo pôr em terra; e outros não os punham. Andava lá um que falava muito aos outros, que se afastassem. Mas não já que a mim me parecesse que lhe tinham respeito ou medo. Este que os assim andava afastando trazia seu arco e setas. Estava tinto de tintura vermelha pelos peitos e costas e pelos quadris, coxas e pernas até baixo, mas os vazios com a barriga e estômago eram de sua própria cor.

E a tintura era tão vermelha que a água lha não comia nem desfazia. Antes, quando saía da água, era mais vermelho. Saiu um homem do esquife de Bartolomeu Dias e andava no meio deles, sem implicarem nada com ele, e muito menos ainda pensavam em fazer-lhe mal.

Apenas lhe davam cabaças d'água; e acenavam aos do esquife que saíssem em terra. Com isto se volveu Bartolomeu Dias ao Capitão. E viemo-nos às naus, a comer, tangendo trombetas e gaitas, sem os mais constranger. E eles tornaram-se a sentar na praia, e assim por então ficaram.

Neste ilhéu, onde fomos ouvir missa e sermão, espraia muito a água e descobre muita areia e muito cascalho. Enquanto lá estávamos foram alguns buscar marisco e não no acharam.

Mas acharam alguns camarões grossos e curtos, entre os quais vinha um muito grande e muito grosso; que em nenhum tempo o vi tamanho. Também acharam cascas de berbigões e de amêijoas, mas não toparam com nenhuma peça inteira. E depois de termos comido vieram logo todos os capitães a esta nau, por ordem do Capitão-mor, com os quais ele se aportou; e eu na companhia. E perguntou a todos se nos parecia bem mandar a nova do achamento desta terra a Vossa Alteza pelo navio dos mantimentos, para a melhor mandar descobrir e saber dela mais do que nós podíamos saber, por irmos na nossa viagem.

E entre muitas falas que sobre o caso se fizeram foi dito, por todos ou a maior parte, que seria muito bem. E nisto concordaram. E logo que a resolução foi tomada, perguntou mais, se seria bem tomar aqui por força um par destes homens para os mandar a Vossa Alteza, deixando aqui em lugar deles outros dois destes degredados.

E concordaram em que não era necessário tomar por força homens, porque costume era dos que assim à força levavam para alguma parte dizerem que há de tudo quanto lhes perguntam; e que melhor e muito melhor informação da terra dariam dois homens desses degredados que aqui deixássemos do que eles dariam se os levassem por ser gente que ninguém entende. Nem eles cedo aprenderiam a falar para o saberem tão bem dizer que muito melhor estoutros o não digam quando cá Vossa Alteza mandar.

E que portanto não cuidássemos de aqui por força tomar ninguém, nem fazer escândalo; mas sim, para os de todo amansar e apaziguar, unicamente de deixar aqui os dois degredados quando daqui partíssemos. E assim ficou determinado por parecer melhor a todos. Acabado isto, disse o Capitão que fôssemos nos batéis em terra. E ver-se-ia bem, quejando era o rio. Mas também para folgarmos.

Fomos todos nos batéis em terra, armados; e a bandeira conosco. Eles andavam ali na praia, à boca do rio, para onde nós íamos; e, antes que chegássemos, pelo ensino que dantes tinham, puseram todos os arcos, e acenaram que saíssemos. Mas, tanto que os batéis puseram as proas em terra, passaram-se logo todos além do rio, o qual não é mais ancho que um jogo de mancal. E tanto que desembarcamos, alguns dos nossos passaram logo o rio, e meteram-se entre eles. E alguns aguardavam; e outros se afastavam. Com tudo, a coisa era de maneira que todos andavam misturados.

Eles davam desses arcos com suas setas por sombreiros e carapuças de linho, e por qualquer coisa que lhes davam. Passaram além tantos dos nossos e andaram assim misturados com eles, que eles se esquivavam, e afastavam-se; e iam alguns para cima, onde outros estavam. E

então o Capitão fez que o tomassem ao colo dois homens e passou o rio, e fez tornar a todos. A gente que ali estava não seria mais que aquela do costume.

Mas logo que o Capitão chamou todos para trás, alguns se chegaram a ele, não por o reconhecerem por Senhor, mas porque a gente, nossa, já passava para aquém do rio. Ali falavam e traziam muitos arcos e continhas, daquelas já ditas, e resgatavam-nas por qualquer coisa, de tal maneira que os nossos levavam dali para as naus muitos arcos, e setas e contas. E então tornou-se o Capitão para aquém do rio. E logo acudiram muitos à beira dele.

Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, etambém os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma.

Também andava lá outra mulher, nova, com um menino ou menina, atado com um pano aos peitos, de modo que não se lhe viam senão as perninhas. Mas nas pernas da mãe, e no resto, não havia pano algum. Em seguida o Capitão foi subindo ao longo do rio, que corre rente à praia. E ali esperou por um velho que trazia na mão uma pá de almadia. Falou, enquanto o Capitão estava com ele, na presença de todos nós; mas ninguém o entendia, nem ele a nós, por mais coisas que a gente lhe perguntava com respeito a ouro, porque desejávamos saber se o havia na terra.

Trazia este velho o beiço tão furado que lhe cabia pelo buraco um grosso dedo polegar. E trazia metido no buraco uma pedra verde, de nenhum valor, que fechava por fora aquele buraco. E o Capitão lha fez tirar. E ele não sei que diabo falava e ia com ela para a boca do Capitão para lha meter. Estivemos rindo um pouco e dizendo chalaças sobre isso. E então enfadou-se o Capitão, e deixou-o.

E um dos nossos deu-lhe pela pedra um sombreiro velho; não por ela valer alguma coisa,mas para amostra. E depois houve-a o Capitão, creio, para mandar com as outras coisas a Vossa Alteza.

Andamos por aí vendo o ribeiro, o qual é de muita água e muito boa. Ao longo dele há muitas palmeiras, não muito altas; e muito bons palmitos. Colhemos e comemos muitos deles. Depois tornou-se o Capitão para baixo para a boca do rio, onde tínhamos desembarcado.

E além do rio andavam muitos deles dançando e folgando, uns diante os outros, sem se tomarem pelas mãos. E faziam-no bem. Passou-se então para a outra banda do rio Diogo Dias, que fora almoxarife de Sacavém, o qual é homem gracioso e de prazer. E levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se a dançar com eles, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam e andavam com ele muito bem ao som da gaita. Depois de dançarem fez ali muitas voltas ligeiras, andando no chão, e salto real, de que se eles espantavam e riam e folgavam muito.

E conquanto com aquilo os segurou e afagou muito, tomavam logo uma esquiveza como de animais montezes, e foram-se para cima. E então passou o rio o Capitão com todos nós, e fomos pela praia, de longo, ao passo que os batéis iam rentes à terra. E chegamos a uma grande lagoa de água doce que está perto da praia, porque toda aquela ribeira do mar é apaulada por cima e sai a água por muitos lugares.

E depois de passarmos o rio, foram uns sete ou oito deles meter-se entre os marinheiros que se recolhiam aos batéis. E levaram dali um tubarão que Bartolomeu Dias matou. E levavam-lho; e lançou-o na praia. Bastará que até aqui, como quer que se lhes em alguma parte amansassem, logo de uma mão para outra se esquivavam, como pardais do cevadouro. Ninguém não lhes ousa falar de rijo para não se esquivarem mais. E tudo se passa como eles querem -- para os bem amansarmos !

Ao velho com quem o Capitão havia falado, deu-lhe uma carapuça vermelha. E com toda a conversa que com ele houve, e com a carapuça que lhe deu tanto que se despediu e começou a passar o rio, foi-se logo recatando. E não quis mais tornar do rio para aquém. Os outros dois o Capitão teve nas naus, aos quais deu o que já ficou dito, nunca mais aqui apareceram -- fatos de que deduzo que é gente bestial e de pouco saber, e por isso tão esquiva. Mas apesar de tudo isso andam bem curados, e muito limpos.

E naquilo ainda mais me convenço que são como aves, ou alimárias montezinhas, as quais o ar faz melhores penas e melhor cabelo que às mansas, porque os seus corpos são tão limpos e tão gordos e tão formosos que não pode ser mais! E isto me faz presumir que não tem casas nem moradias em que se recolham; e o ar em que se criam os faz tais. Nós pelo menos não vimos até agora nenhumas casas, nem coisa que se pareça com elas.

Mandou o Capitão aquele degredado, Afonso Ribeiro, que se fosse outra vez com eles. E foi; e andou lá um bom pedaço, mas a tarde regressou, que o fizeram eles vir: e não o quiseram lá consentir. E deram-lhe arcos e setas; e não lhe tomaram nada do seu. Antes, disse ele, que lhe tomara um deles umas continhas amarelas que levava e fugia com elas, e ele se queixou e os outros foram logo após ele, e lhas tomaram e tornaram-lhas a dar; e então mandaram-no vir. Disse que não vira lá entre eles senão umas choupaninhas de rama verde e de feteiras muito grandes, como as de Entre Douro e Minho. E assim nos tornamos às naus, já quase noite, a dormir. 

27 de abril (segunda-feira) 

Segunda-feira, depois de comer, saímos todos em terra a tomar água. Ali vieram então muitos; mas não tantos como as outras vezes. E traziam já muito poucos arcos. E estiveram um pouco afastados de nós; mas depois pouco a pouco misturaram-se conosco; e abraçavam-nos e folgavam; mas alguns deles se esquivavam logo. Ali davam alguns arcos por folhas de papel e por alguma carapucinha velha e por qualquer coisa. E de tal maneira se passou a coisa que bem vinte ou trinta pessoas das nossas se foram com eles para onde outros muitos deles estavam com moças e mulheres. E trouxeram de lá muitos arcos e barretes de penas de aves, uns verdes, outros amarelos, dos quais creio que o Capitão há de mandar uma amostra a Vossa Alteza.

E segundo diziam esses que lá tinham ido, brincaram com eles. Neste dia os vimos mais de perto e mais à nossa vontade, por andarmos quase todos misturados: uns andavam quartejados daquelas tinturas, outros de metades, outros de tanta feição como em pano de ras, e todos com os beiços furados, muitos com os ossos neles, e bastantes sem ossos. Alguns traziam uns ouriços verdes, de árvores, que na cor queriam parecer de castanheiras, embora fossem muito mais pequenos. E estavam cheios de uns grãos vermelhos, pequeninos que, esmagando-se entre os dedos, se desfaziam na tinta muito vermelha de que andavam tingidos. E quanto mais se molhavam, tanto mais vermelhos ficavam.

Todos andam rapados até por cima das orelhas; assim mesmo de sobrancelhas e pestanas.

Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas de tintura preta, que parece uma fita preta da largura de dois dedos. E o Capitão mandou aquele degredado Afonso Ribeiro e a outros dois degredados que fossem meter-se entre eles; e assim mesmo a Diogo Dias, por ser homem alegre, com que eles folgavam. E aos degredados ordenou que ficassem lá esta noite.

Foram-se lá todos; e andaram entre eles. E segundo depois diziam, foram bem uma légua e meia a uma povoação, em que haveria nove ou dez casas, as quais diziam que eram tão compridas, cada uma, como esta nau capitaina. E eram de madeira, e das ilhargas de tábuas, e cobertas de palha, de razoável altura; e todas de um só espaço, sem repartição alguma, tinham de dentro muitos esteios; e de esteio a esteio uma rede atada com cabos em cada esteio, altas, em que dormiam. E de baixo, para se aquentarem, faziam seus fogos. E tinha cada casa duas portas pequenas, uma numa extremidade, e outra na oposta.

E diziam que em cada casa se recolhiam trinta ou quarenta pessoas, e que assim os encontraram; e que lhes deram de comer dos alimentos que tinham, a saber muito inhame, e outras sementes que na terra dá, que eles comem. E como se fazia tarde fizeram-nos logo todos tornar; e não quiseram que lá ficasse nenhum. E ainda, segundo diziam, queriam vir com eles.

Resgataram lá por cascavéis e outras coisinhas de pouco valor, que levavam, papagaios vermelhos, muito grandes e formosos, e dois verdes pequeninos, e carapuças de penas verdes, e um pano de penas de muitas cores, espécie de tecido assaz belo, segundo Vossa Alteza todas estas coisas verá, porque o Capitão vo-las há de mandar, segundo ele disse. E com isto vieram; e nós tornamo-nos às naus. »

Condensado da página da Internet de : NUPILL - Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística" 

Grandes Portugueses


Os Grandes Portugueses

Encontrar o primeiro entre os grandes portugueses da nossa história, é uma tarefa  muito difícil e quase abstracta para se conseguir. Vejamos como este blog classificaria não o melhor, mas os melhores entre os Grandes Portugueses.
 Os Grandes Portugueses - Os Internacionais

Vasco da Gama

O homem que expandiu o mundo

O economista e filósofo britânico Adam Smith (1723-1790), autor do clássico dos clássicos do capitalismo, "A Riqueza das Nações", afirmou que os dois acontecimentos mais importantes da história da humanidade tinham sido as descobertas da América, em 1492, e da rota marítima para as Índias em 1498 -nome que se dava então às terras banhadas pelo Oceano Índico, não apenas à Índia propriamente dita.

É sem dúvida o português mais divulgado e conhecido internacionalmente

Fernão de Magalhães

O homem que provou que o mundo era redondo

Fernão de Magalhães, filho de Rui Magalhães e Alda de Mesquita, nasceu em 1480 em Sabrosa ou no Porto e morreu em 27 de Abril de 1521 em Mactan, Filipinas. Fui pagem da Raínha D. Leonor em Lisboa. Navegou sob as bandeiras de Portugal ( 1505-1512 )e Espanha (1519-21) e é considerado por muitos, como o maior navegador de todos os tempos. Com a sua viagem de circum-navegação, provou que a terra era redonda. 

Ainda há poucos anos, foi homenageado pela NASA, que enviou ao espaço uma nave com o seu nome. O estreito de Magalhães, as nuvens de Magalhães ( as galáxias mais perto da terra ), e a própria marca de equipamentos de GPS" Magellan" - o seu nome em língua inglesa - são uma prova da sua universalidade. Recentemente o PC portátil, construído em Portugal em parceria com a Intel e destinado principalmente a estudantes, denomina-se Magalhães.

 Os Grandes Portugueses - Os Nacionais
D. Afonso Henriques - O Libertador

O homem que fundou Portugal

Ninguém merece mais este título que o infante Afonso Henriques, filho de dona Teresa, bastarda do rei Afonso VI de Leão e Castela, e do conde Henrique de Borgonha. 

Mas, graças à esperteza política de Afonso Henriques, Portugal é a primeira naçãoEuropeia a estabelecer-se como Estado independente. Antes do ano 1200, Portugal já é Portugal. Com direito, inclusive, a língua própria: o galaico-português.

Génio, estadista, raposa política, vitorioso, implacável, espertíssimo: Afonso constrói uma história rocambolesca. Tudo que pode manipular a seu favor, manipula sem escrúpulos. Inicia a trajectória de vitórias fundando um reino. 

D. Dinis - O Lavrador

O culto rei medieval que civilizou Portugal

O rei D. Dinis I , que foi mandado educar esmeradamente pelo seu pai, foi modelar como soberano, no domínio da politica. Fomentou a agricultura; incentivou a distribuição e circulação da propriedade, favorecendo o estabelecimento de pequenos proprietários. ; mandou enxugar pântanos para distribuir a terra a colonos; semeou pinhais (Leiria etc.); concedeu várias minas e mandou explorar algumas por sua conta; desenvolveu as feiras.
 
Reorganizou a marinha, contratando para isso o almirante genovês Emmanuele Pesagno (1317); resolveu habilmente o problema dos Templários ( perseguidos por Filipe o Belo rei de França, que conseguiu do Papa a sua extinção), criando para isso a Ordem de Cristo.
 
Finalmente fundou a Universidade de Coimbra em 1290 (primeiro em Lisboa) e foi ele próprio  um protector da literatura. No entanto ficou famoso como "o rei lavrador" pelo seu interesse pela terra. O português torna-se a língua oficial do país. A corte régia era um centro de cultura, distinguindo-se o próprio monarca pelos seus dotes de poeta. D. Dinis preocupou-se também com a defesa do reino, promovendo a construção de castelos e novas muralhas em redor das cidades.
Rainha Santa Isabel - A rainha da paz

Senhora de muitos créditos, generosa e benevolente

Rainha de Portugal, filha de Pedro III de Aragão e de D. Constança. Casou com D. Dinis em 1282 (Trancoso).

Entre os seus múltiplos créditos, ditados por uma personalidade generosa e benevolente, ficaram conhecidos os seus esforços apaziguadores nas negociações de paz entre D. Dinis e seu irmão, o infante D. Afonso (1287 e 1299), entre Jaime II de Aragão e Fernando IV de Castela (1300-1304) e entre D. Dinis e o seu filho, D. Afonso IV (1312-1324).Fundou o mosteiro de Santa Clara (Coimbra) e do Hospital dos Inocentes (Santarém), dedicando-se afincadamente a obras de caridade, o que lhe valeu ser popularmente apelidada de "Rainha Santa". À morte de D. Dinis, retirou-se para o mosteiro de Santa Clara, ingressando na Ordem das Clarissas. Faleceu em 4 de Julho de 1336.
Foi beatificada pelo Papa Leão X em 1516, vindo a ser canonizada, por especial pedido da dinastia filipina, que colocou grande empenho na sua santificação, pelo Papa Urbano VIII em 1625. É reverenciada a 4 de Julho, data do seu falecimento.

Milagre das rosasConta-se que, certa vez, numa manhã de Inverno, a rainha, decidida a ajudar os mais desfavorecidos, teria enchido o regaço de seu vestido com pães, para os distribuir. Tendo sido apanhada pelo soberano, que lhe inquiriu onde ia e o que levava no regaço, a rainha exclamou: São rosas, Senhor!, ao que este, com desconfiança, inquiriu: "Rosas, no Inverno?". Com efeito, ao abri-lo, teriam brotado rosas do regaço do vestido da soberana, ao invés dos pães que ocultara. Este evento ficou conhecido como milagre das rosas.

Nuno Álvares Pereira

O homem que salvou a independência da Pátria

D. Nuno Álvares Pereira nasceu em 1360, em local que não é fácil determinar, embora Cernache de Bonjardim e Flor da Rosa sejam os mais citados. Morreu em Lisboa no Convento do Carmo em 1431. Era filho do Prior da Ordem do Hospital e de Iria Gonçalves do Carvalhal.

É uma das figuras mais famosas da nossa história, apontada sempre como modelo de virtudes cívicas e religiosas, um dos raros nomes que unanimemente é costume identificar com a própria existência nacional. A imagem de Nuno Álvares familiar a todos os portugueses, assenta em dois depoimentos do século XIV, o de Fernão Lopes e o do anónimo da Crónica do Condestrabe.

É também essa imagem que reaparece modernamente na prosa sedutora de Oliveira Martins.
O Infante D. Henrique - O Navegador

O homem que expandiu Portugal

O terceiro filho de João I e Filipa de Lencastre, mais conhecido impropriamente como " Navegador" (ele pessoalmente nunca passou de Tanger), chamava-se Henrique e foi mestre da Ordem de Cristo (1420), que o rei Dinis I tinha fundado (1319). Os fundos da ordem eram usados para atrair geógrafos e navegadores preparados e simultaneamente equipar uma série de expedições que gradualmente, começaram a colher frutos.

A data da primeira expedição do príncipe não é conhecida exactamente, mas parece ter sido cerca de 1418, quando a ilha de Porto Santo foi visitada. O primeiro contacto com a Madeira data provavelmente de 1419. Fez-se uma tentativa de povoar as Canárias, sem êxito, e entre 1427 e 1431 os marinheiros portugueses visitaram os Açores.

Nuno Gonçalves

O maior mestre português da pintura

Nuno Gonçalves ( 1450-72), Pintor português reconhecido como um dos grandes mestres do século XV. Depois da descoberta em 1882 do seu único trabalho conhecido, a pintura do altar do convento de São Vicente, e depois de 400 anos de anonimato, Nuno Gonçalves foi finalmente reconhecido como o fundador da escola de pintura Portuguesa e um artista de importância Universal.

Aparentemente Gonçalves foi pintor de D. Afonso V em 1450. Francisco de Holanda nos seus "Dialogues on Ancient Painting "(1548), refere-se a Nuno Gonçalves como uma das" águias" um dos mestres do século XV -- mas o seu nome e trabalhos estavam perdidos na história.

A sua obra prima para a catedral de Lisboa foi destruída no terramoto de 1755, e a sua outra obra  com o tema de São Vicente,  o santo patrono de Lisboa e da casa real de Portugal, desapareceu até 1882, quando foi descoberta no convento de São Vicente. Não foi senão em 1931, quando sua obra foi exposta em Paris, que Gonçalves recebeu o reconhecimento internacional que merecia.

O Políptico de São Vicente (hoje no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa) consiste em seis painéis, dois largos e quatro mais estreitos, dominado pela figura de São Vicente. No maior deles, o "Painel do Infante",  o santo é venerado por um grupo de nobres, entre os quais Afonso V.  
  
D. João II - O príncipe Perfeito
"El hombre" como lhe chamava sua prima, Isabel a Católica.

Filho primogénito do rei D. Afonso V e de D. Isabel, D. João II nasceu em Lisboa a 5 de Maio de 1455. Casa em 16 de Setembro de 1473 com D. Leonor ( A Fundadora das Misericórdias ).

Morreu em Alvor em Outubro de 1495, no meio de pavorosa agonia, correndo vozes no tempo, do que fazem ecos os cronistas, de que a morte foi devida a peçonha misturada com a água.

D. João II foi uma das maiores figuras da nossa história, não tanto pelas qualidades pessoais, como pelos métodos de governo, sobretudo pela obra que realizou no fortalecimento do poder régio. 

Ainda que a nobreza portuguesa chamava "Tirano" a D. João II, o melhor elogio da sua figura foi o de sua prima Isabel a Católica rainha de Espanha, que disse quando soube da sua morte : 
"- Murió el Hombre !"
 
A Rainha D. Leonor de Lencastre

A fundadora da Casa das  Misericórdias


Era filha do infante D. Fernando (irmão de D. Afonso V) e de D. Beatriz, casou aos 12 anos ( 1473 ) com o seu primo o futuro rei D. João II, então com15 anos, tornando-se assim rainha de Portugal. Desse casamento nasceu o príncipe D. Afonso, que morreu de acidente em 1491

Em 1476, ficou como regente do reino, por D. João II ter de se ausentar em defesa de seu pai em Castela. O facto de o seu filho D. Afonso ter morrido cedo levou a que D. João II pretendesse pôr no trono o filho bastardo (D. Jorge), levando D. Leonor a defender os interesses de seu irmão, D. Manuel, na sucessão.

D. Leonor de Lencastre , destacava-se, pela formosura, inteligência e, sobretudo, pelo muito que sofreu e pelo bem que espalhou, Dona Leonor, a fundadora das Casas de Misericórdias, neta Del Rei, Dom Duarte e duas vezes bisneta de Dom João I, Dona Leonor, a "Rainha dos sofredores", era de temperamento muito diverso do seu real consorte.

Ela, linda e faceira, era impressionantemente bondosa. Tinha a fisionomia suavíssima, marcada pelos olhos azuis e cabelos louros, herdados de sua bisavó, Dona Filipa de Lencastre

Afonso de Albuquerque - O Grande

O construtor do Império Português no Oriente

Afonso de Albuquerque foi a maior figura de Portugal no Oriente. Segundo filho de Gonçalo de Albuquerque , senhor de Vila Verde dos Francos, nasceu em Alhandra por volta de 1462, sendo educado na corte de D. Afonso V. Em 1476 acompanhou o futuro rei D. João II nas guerras com Castela, esteve em Arzila e Larache em 1489, e em 1490 faz parte da guarda de D. João II, de quem dizem que foi estribeiro-mor, tendo voltado novamente a Arzila em 1495.
 
Em 1503 é enviado à Índia, no comando de três naus, tendo participado em várias batalhas, erguido a fortaleza de Cochim e estabelecido relações comerciais com Coulão. Regressou a Portugal em 1504, onde expôs a D. Manuel I a sua visão de um império no Oriente, tendo por base a conquista de posições estratégicas nos mares do Índico. Tendo sido aceite o seu plano, seguiu para a Índia em 1506 como capitão-mor do mar da Arábia.
  
Pedro Nunes

Talvez o maior cientista português de todos os tempos
 
Pedro Nunes, em latim  PETRUS NONIUS ( N. em 1502, Alcácer do Sal, -- M. em  Coimbra a 11 de Agosto de 1578 ), matemático,  geógrafo, e figura principal da ciência náutica portuguesa, notado pelos seus estudos sobre a terra incluindo os oceanos.De família de ascendência judaica, Pedro Nunes estudou na Universidade de Salamanca, e talvez na Universidade de Alcalá de Henares.

Pedro Nunes foi depois professor de matemática em Lisboa e Coimbra e tornou-se cosmógrafo real em 1529, quando da disputa com a Espanha sobre a posição das ilhas das especiarias, pois os mapas de aquele tempo não estavam de acordo sobre a longitude dessas mesmas ilhas. Dedicou-se pessoalmente à solução desses problemas assim como à cartografia em geral. Foi para Espanha em 1538, mas regressou a Portugal em 1544 e tornou-se numa autoridade sobre as posições geográficas das novas descobertas de Portugal e Espanha. Em 1547 passou a cosmógrafo-mor do reino.
Dedicou-se também à investigação, tendo publicado em 1542 a obra " De Crespusculis" onde descreve em pormenor uma sua invenção, que consta de uma escala, anexa a uma escala principal, que permite ler fracções de divisão com um rigor muito maior do que o obtido por estimativa. Esta invenção, que lhe deu fama mundial, conhecida pelo nome de " nónio ", foi depois desenvolvida pelo francês Pierre Vernier, que lhe deu a forma rectilínea actual ( o de Pedro Nunes era circular ).

Em 1537, escreve o " Tratado da Sphera ", altura em que inventa as linhas de rumo, posteriormente designadas loxodromias.
 
Luís Vaz de Camões

O maior poeta português

Luis Vaz de Camões (N. c. 1524/25, Lisboa -- M. a  10 de Junho de 1580, Lisboa), o maior poeta português de sempre, autor do poema épico  Os Lusíadas (1572), que descreve a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama. 

Camões teve um impacto permanente e sem paralelo na literatura portuguesa e brasileira, devido a não só ao seu poema épico mas também à muita poesia lírica publicada posteriormente. 

Os Lusíadas são um poema épico escrito em 10 Cantos, em oitava rima e com 1.102 estrofes.

Sebastião José - Conde de Oeiras e Marquês de Pombal

O reconstrutor de Lisboa

Nasceu em Lisboa a 13 de Maio de 1699 filho de Manuel de Carvalho e Ataíde capitão de cavalaria e nobre da Casa Real. O pai de Sebastião José morreu jovem e a mãe voltou a casar-se. O seu tio Paulo de Carvalho era professor na Universidade de Coimbra, pessoa de influência política e colocou o sobrinho nessa Universidade. Sebastião José abandonou os estudos e alistou-se no exército onde não passou de simples cabo. Desiludido com o exército, 

Casou, aos 23 anos, com uma senhora 10 anos mais velha e viúva. Odiado por uns e admirado por outros. Foi um dos maiores estadistas da nossa História, durante o reinado de D.José, desenvolve uma intensa actividade de recuperação económica, patrocínio das artes e cultura e revolução do pensamento político, que vem culminar com o acto extraordinário da reconstrução da cidade de Lisboa após o terramoto de 1755.

Foi embaixador de D. João V nas cortes inglesa e austríaca. Estas missões foram importantes para a formação política e económica de Sebastião José de Carvalho e Melo. Na Áustria casou, em segundas núpcias, com D. Leonor Daun.
Eça de Queiroz

O maior e mais lido novelista português

José Maria Eça de Queiroz (N. 25 Nov de 1845 na Póvoa do Varzim, M. em 16 de Agosto de 1900 em Paris), novelista inclinado às reformas sociais foi quem introduziu o naturalismo e realismo em Portugal. 

É considerado por muitos como o maior novelista Português e é certamente o novelista Português mais destacado do século XIX. Continua a ser lido largamente em Portugal e no estrangeiro, principalmente na América Latina.

Filho ilegítimo de um magistrado proeminente, Eça de Queirós formou-se em Direito em 1866 na Universidade de Coimbra e depois vai para Lisboa. É aqui que o seu pai o ajuda na sua carreira como advogado. No entanto, o verdadeiro interesse de Eça de Queirós reside na literatura, e escreve pequenas histórias - irónicas, fantásticas, macabras, e bastante chocantes -- e ensaios, com uma variedade de temas  na Gazeta de Portugal.

 
Fernando Pessoa

O intelectual português de língua e cultura inglesa

Fernando António Nogueira Pessoa, (n. 13 de Junho de 1888 em Lisboa -- m. 30 de Novembro de 1935 em Lisboa), poeta cujo papel no Modernismo contribui para dar a Literatura Portuguesa um significado na Europa.Com a idade de 7 anos Pessoa viveu em Durban , cursou a Universidade do Cabo na África do Sul, onde o padrasto era Cônsul de Portugal.  

Dominava bem a língua inglesa e escreveu o seu primeiros versos em inglês. Em 1905 volta para Portugal, onde permaneceu, trabalhando como tradutor comercial  enquanto contribuía em ensaios "avant-garde", em especial Orpheu (1915), o órgão do movimento Modernista, do qual Pessoa era o líder estético. 

Começou a publicar livros de poesia inglesa em 1918, mais não foi senão até 1934 que o seu primeiro livro em português apareceu - Mensagem -.  Atraiu pouca atenção nessa altura.
A fama só veio após a sua morte em 1935, quando ficou conhecido o seu extraordinário  mundo  de sonho, pessoas com "alter egos" cuja poesia escreveu conjuntamente com a sua. 
António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz

O primeiro prémio Nobel Português

ANTÓNIO CAETANO DE ABREU FREIRE EGAS MONIZ (N.em 29 de Nov.de 1874, Avanca, m. em 13 de Dez. de 1955, em Lisboa), Neurologista e político foi o fundador da moderna psico-cirurgia. 

Juntamente com Walter Hess recebeu o Prémio Nobel em 1949 para Fisiologia e Medicina, pelo desenvolvimento da leucotomia prefrontal ( lobotomia ) como terapia radical para certas psicoses ou desordens mentais.

Como primeiro professor de neurologia da Universidade de Lisboa (1911-44), Egas Moniz introduziu e desenvolveu  (1927-37) a angiografia cerebral  (arteriografia), um método de tornar vísivel os vasos sanguíneos do cérebro injectando na artéria carótida substâncias opacas aos raios X. Esta técnica provou ser de valor considerável no diagnóstico das doenças intracraneais e tumores da glândula pituitária.. 
\
António de Oliveira Salazar

O construtor do Estado Novo

Odiado por uns, e admirado por outros, António de Oliveira Salazar Doutor em Direito na área da Economia, pela Universidade de Coimbra, professor nessa mesma universidade, foi uma das figuras governativas mais enigmáticas da história de Portugal nos últimos séculos.
 
Arrasado pelo 25 de Abril, volta a sair do túmulo, e fica como o personagem do século XX numa sondagem feita pela revista Visão e canal de Televisão SIC. Recentemente volta a ficar em primeiro lugar entre os dez portugueses mais votados , no "concurso" Os Grandes Portugueses, organizado pela RTP.

Para tentar compreender este estranho fenómeno de popularidade, e poder compreender a sua figura sem cair nos exageros dos "amigos" e dos "inimigos", vejamos o que escreveu sobre Salazar, um historiador imparcial, Jacques Pirenne, na sua História Universal ( Edição 1972 ). 
José Saramago

2º Prémio Nobel português - Literatura
 
José Saramago nasceu na aldeia ribatejana de Azinhaga, concelho de Golegã, no dia 16 de Novembro de 1922, embora o registo oficial mencione o dia 18. Seus pais emigraram para Lisboa quando ele ainda não perfizera três anos de idade. 

Toda a sua vida tem decorrido na capital, embora até ao princípio da idade madura tivessem sido numerosas e às vezes prolongadas as suas estadas na aldeia natal. Fez estudos secundários (liceal e técnico) que não pôde continuar por dificuldades económicas.
 
Mário Soares


Uns dos principais lutadores contra o totalitarismo pro-soviético que pretendeu impor-se em Portugal depois do 25 de Abril

Soares ( Mário) Presidente da República de Portugal, de seu nome completo Mário Alberto Nobre Lopes Soares, nasceu em Lisboa a 7 de Dezembro de 1924. É licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras de Lisboa,(1951) e em Direito pela Faculdade de Direito desta mesma cidade (1957) e exerceu a advocacia durante muitos anos.

Quando do seu exílio em França exerceu actividades de ensino em v+árias Universidades Francesas. Desde novo que enveredou pela actividade política contra o regime de Oliveira Salazar. Englobou a candidatura de Humberto Delgado em 1958. Actuou como advogado de defesa de diversos presos políticos. Foi preso 12 vezes, deportado para S.Tomé e teve que exilar-se para França.

Depois do 25 de Abril regressou a Portugal. Embora participando dos primeiros governos após o Abril, entrou em conflito com o V Governo provisório que provocou a queda de Vasco Gonçalves. Foi primeiro Ministro do IX Governo durante a coligação PS/PSD (1983-1985). Ultima o processo de adesão de Portugal à CEE.
 
    

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A IGREJA CATÓLICA EM PORTUGAL


História da Igreja Católica em Portugal

Credo do autor desta página 


O autor desta página é cristão, católico e crê em Deus Pai Todo Poderoso, como o único Criador possível do Big Bang e de todas as outras maravilhas do Universo que dele derivaram, das quais a mais surpreendente de todas é o dom da própria Vida.

Quando o Hubble fotografou a explosão de uma Hiper-Nova que libertou num segundo mais energia que aquela que o Sol libertará nos seus possíveis 10.000 milhões anos de existência, damo-nos conta do imenso poder de Deus. 

Se ao chegar pela primeira vez à Lua o homem tivesse lá encontrado uma simples agulha de aço, alguém teria acreditado que esse objecto de forma simples, feito de átomos simples, tivesse resultado de fenómenos aleatórios de pressões, temperaturas e outros fenómenos físicos?

Ninguém acreditaria ou acreditará nunca. Exige-se a presença de uma Inteligência superior para conceber e fabricar tal objecto. No entanto, para negar a presença de Deus pretende-se explicar de forma pseudo-científica que os seres vivos com essa necessária Inteligência, tenham surgido dos tais fenómenos aleatórios que não poderiam ter feito nascer a agulha! 

Mergulhado num Mundo de maravilhas tecnológicas, cada vez mais sofisticadas, o homem comum, que na sua grande maioria compreende muito pouco dessas modernas tecnologias, afasta-se do Criador, argumentando como justificação para esse afastamento, o uso racional dessas mesmas ciências que ele não entende. 

Einstein, que parecia não simpatizar muito com a Teoria da Incerteza de Heisenberg, dizia para rebater essa Teoria, que não acreditava que Deus tivesse jogado aos dados para a Criação do Mundo. 

E o que o pensarão aqueles que não entendem a Teoria de Heisenberg ? 

A ciência sem a religião é coxa. A religião sem a ciência é cega (A. Einstein ).

Infinitamente pequeno na sua dimensão material, geneticamente muito igual a todos os outros mamíferos, como o acaba de divulgar o descobrimento recente do genoma humano, o Homem só é grande e diferente na sua dimensão espiritual que Deus criou à sua imagem e semelhança. 

Negando-o ou acreditando Nele, o homem estará sempre de forma negativa ou positiva, a fazer um acto de Fé da sua existência.

Das Origens até à Independência

Até à invasão dos bárbaros A Religião Cristã faz parte do património que Portugal herdou do passado quando se constituiu nação independente ( Sé. XII ). Supõe-se que a evangelização da Hispânia foi iniciada por S. Paulo, por volta do ano 58, que manifesta aos romanos ( Rom.15, 24-28) o seu desejo de a visitar. S. Clemente de Roma, no ano 96, afirma numa carta aos coríntios que o apóstolo concretizou o seu propósito; e o Cânon de Muratori refere-se explicitamente à saída de S. Paulo para a Hispânia. Também se afirma que o apóstolo Santiago veio à Península, mas os documentos não são muito precisos e fica a dúvida.

São Paulo

A tradição também se refere à evangelização da Península pelos chamados "varões apostólicos", que teriam sido enviados por S. Pedro e S. Paulo e, pelo nome, alguns seriam oriundos da Península: S. Torquato, S. Cecílio, Stº. Eufrásio, etc.

Quando das perseguições são inúmeros os mártires, sobretudo sob o império de Décio e Diocleciano, como S. Frutuoso, Stª. Eulália, S, Veríssimo. S. Victor, etc. No principio do século IV reúne-se em Elvira ( Ilíberis) um concílio em que estão representadas cerca de 40 dioceses, entre as quais Faro ( Ossonoba ) e Évora, concílio que teve grande projecção na vida de toda a igreja, sobretudo no aspecto disciplinar.

Os concílios de Toledo (400) e o de Braga (561) foram importantes nas lutas contra as heresias prisciliana, gnóstica e maniqueia. Houve importantes autores literários na vida cristã da Península, como Ósio de Córdova, Potâmio de Lisboa e Orósio de Braga. Nos meados do século IV a Igreja Hispânica encontrava-se dividida em cinco províncias eclesiásticas: Lusitânia, Bética, Galécia, Cartagenense e Tarraconense, a cujos bispos se atribuía a categoria de metropolitana. A diocese de Braga é a mais antiga (Sé. III), tornando-se conhecido o seu bispo D. Paterno, e um pouco mais tarde aparecem Ossónoba, Évora e Lisboa.

Período dos Suevos e Visigodos

Um facto importante da vida religiosa da Península, foi a invasão dos bárbaros. Primeiramente entraram os Alanos, os Vândalos e os Suevos, que se tornaram independentes, e os Visigodos, que vieram a dominar quase toda a Hispânia. Os Suevos eram geralmente pagãos e supõe-se que foi Requiário o primeiro rei a receber o baptismo, mas o grande apostolo destes bárbaros foi S. Martinho de Dume, que só no reinado de Teodomiro vieram a abraçar a fé cristã. Os visigodos eram arianos e por isso perseguiram os católicos, mas Alarico II veio conceder-lhes privilégios e, com a conversão de Recaredo, solenemente anunciada no Concílio de Toledo (589), todo o povo abjurou do arianismo e fez a profissão de fé católica. Assim toda a Espanha ficou convertida à Fé Católica.

Houve vários concílios importantes em Toledo, Braga e Mérida que provam bem a vitalidade da igreja peninsular. Vários escritores eclesiásticos da época brilharam bem alto, como Stº. isidoro ( o das Etimologias), S. Martinho de Dume, S. Frutuoso e os historiadores Orósio e Idácio, João Biclarense e Aprígio. A preparação do clero fazia-se em escolas conventuais das dioceses.
A vida monástica também se desenvolveu bastante, sobretudo sob a influência de S. Martinho e S. Frutuoso, fundando-se muitos mosteiros, como os de Lorvão, Vicariça, Tibães e Guimarães. É digno de registo o desenvolvimento da liturgia, em que Braga sobressaiu, e tão vincadamente que o seu rito veio a manter-se até aos nossos dias.

Período Muçulmano

A invasão dos Árabes (711) veio a afectar profundamente a vida cristã da Península. Os cristãos foram perseguidos, mas muitos conseguiram manter-se fiéis à sua fé cristã em várias partes do território peninsular, embora por vezes submetendo-se ao domínio do invasor ( moçárabes ). A reacção cristã, porém, veio a tornar-se eficaz, aproveitando por vezes o declínio do poder dos invasores para constituir pequenos principados. É digna de nota a acção de D. Sisenando, que acompanhou Fernando Magno de Leão na conquista do território situado entre o Douro e o Mondego.

Mas foi Pelágio o grande batalhador que partindo de Covadonga, deu a primeira arrancada donde viria surgir Portugal e que permitiu que o cristianismo se organizasse definitivamente em dioceses e freguesias, além da vida ascética e mística que se vivia nos mosteiros e conventos.

A Ordem de Cluny, sob a direcção de S. Hugo, que tinha audiência em todas as cortes europeias, particularmente em Leão e Castela, contribuiu imenso para este desenvolvimento. A sobrinha de S. Hugo, D. Constança casou com Afonso VI de Leão, provocando mais tarde a vinda dos sobrinhos da raínha, D. Raimundo e D. Henrique, a quem foi doado o Condado Portucalense.

Da Independência à Restauração 1ª - Fase - D. Afonso Henriques encontra hábil colaboração em D. João Peculiar e em D. Telo, que pelas relações amistosas que tiveram com os papas Inocêncio II, Lúcio II e Alexandre III que acabou por conceder a Portugal a bula "Manifestis Probatum" assegurando a nossa independência.

D. Dinis elabora a Concordata dos 40 Artigos que Nicolau IV aprova em 1289 na bula"Cum olim". D. Pedro I estabelece o Beneplácito Régio nas cortes de Elvas para restringir a publicação sem controlo régio de documentos pontifícios que por vezes não asseguravam a sua veracidade. A vida monástica desenvolve-se muito neste período. Fundamentalmente por questões de Fé, mas também por motivo da colonização de terras e cultura das populações, como no caso da Ordem de Cister. Foram também fermento da obra civilizadora que Portugal havia de realizar no Mundo.

Santa Cruz de Coimbra

Foram grandes centros de cultura Santa Cruz de Coimbra, Alcobaça, Guimarães, S. Vicente de Fora, sendo elas que educaram o povo, adestrando-o até no cultivo das terras. Pela lei orgânica dessas ordens, tornava-se-lhes fácil manter contacto com os maiores centros de cultura europeia, onde possuíam residências para aí darem uma formação especializada aos frades que viriam a ser mestres nos seus mosteiros e conventos nacionais.

Merecem especial referência os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho que se estabeleceram em Santa Cruz de Coimbra, a Ordem Franciscana introduzida em Portugal no tempo de D. Afonso II, fundando conventos em Lisboa, Guimarães, Coimbra, etc. A Ordem de São Domingos que teve a sua primeira comunidade em Chelas. A Ordem da Santíssima Trindade que se estabeleceu em Santarém e Lisboa e se consagrou à remissão de cativos. Os Cónegos de Santo Antão.

Os Cónegos do Santo Sepulcro, os Carmelitas, os Eremitas de Santo Agostinho, os Eremitas da Serra de Ossa, etc., também se estabeleceram em várias regiões do País, ficando a dever-se-lhes uma actividade muito benéfica. Vivendo-se num tempo de cruzada e de insegurança, aparecem naturalmente ordens em que a cruz e a espada se uniram para, em comum, defenderem a Fé e a tranquilidade dos povos cristãos.

Assim aparecem a Ordem de Calatrava, a de Sant'iago, a da Espada e a de Cristo, que é originária e tipicamente portuguesa, substituindo a Ordem dos Templários ou Cavaleiros do Templo que tinha sido suprimida pelo Papa. Ainda hoje os aparelhos da Força Aérea portuguesa, aviões ou helicópteros, como há cinco séculos o faziam as caravelas das descobertas, têm a Cruz de Cristo nas asas e fuselagens.

Em 12 de Novembro de 1288, os superiores das principais ordens religiosas portuguesas, solicitaram ao Papa que confirmasse a criação de um Estudo Geral de Ciências e assim D. Dinis instituiu a Universidade e o papa Nicolau IV confirmou-a por bula de 9 de Agosto do mesmo ano. Neste período destacaram-se além de Santo António, brilhante orador, no campo da cultura, Pedro Julião ou Pedro Hispano (depois papa João XXI), médico famoso, autor de várias obras científicas, como as "Summulae Logicales" e o "Thesaurus Pauperum", e Álvaro Pais, que escreveu o " De Planctu Ecclesiae", em que preconizava uma reforma geral da Igreja.


Das valiosíssimas obras existentes nas muitas bibliotecas, especialmente de mosteiros, quase todas desaparecidas, ( talvez roubadas e vendidas a bibliotecas e colecções particulares estrangeiras, durante os períodos históricos de perseguições às ordens religiosas). No entanto ainda conservámos o Livro das Aves e o Comentário do Apocalipse, dois códices iluminados de Lorvão e um velho Testamento de Santa Cruz de Coimbra, todos do século XII.

Na arquitectura e na estatuária, o que melhor que se encontra em Portugal é de inspiração religiosa, bastando lembrar as Sés de Braga, Coimbra, ou românico de transição de Alcobaça, e o gótico de Santa Clara de Coimbra e de Leça de Bailio. Na estatuária tivemos mestres notáveis como Diogo Pires o Velho, João de Ruão etc.

Na pintura sobressaiu o mestre Nuno Gonçalves, pintura de estatura universal. Entre os santos deste período salientam-se Santo António, as beatas Teresa, Sancha e Mafalda e a rainha Santa Isabel, aos quais o povo português sempre manifestou muita devoção.

Da Restauração até ao presente

1ª - Fase - Com a restauração da Independência em 1640 , com D. João IV, Portugal teve de desenvolver forte acção diplomática para restabelecer relações com outras nações e com a Santa Sé, para assegurar o seu novo estado político. Clemente IX acabou por aceitar a representação do embaixador português e nomear um novo núncio para Lisboa.

D. João V
Com D. João V as relações foram excelentes e o rei obteve da Santa Sé grandes privilégios, como a concessão de patriarca ao bispo de Lisboa, a elevação ao cardinalato dos núncios e dos patriarcas de Lisboa. Bento XIV concedeu mesmo a D. João V o título de "rei fidelíssimo", a ele e aos seus sucessores.

Já com o reinado de D. José I surgiram bastantes dificuldades, devidas principalmente às acções do Marquês de Pombal, com o restabelecimento do beneplácito régio, expulsão dos jesuítas, a reforma dos programas universitários, a extinção da Universidade de Évora, a perseguição ao bispo de Coimbra, a declaração da Inquisição como tribunal régio, etc.

Neste período foram no entanto criadas novas dioceses no continente e no Ultramar.

Com D. Maria I, muito devota, melhoraram as relações, mas em 1834 com a supressão das ordens religiosas, as relações de Portugal com a Santa Sé entravam em nova crise, com manifesto prejuízo da nossa acção civilizadors entre os indígenas do Ultramar.

Da Restauração até ao presente

2ª - Fase - Nos princípios do século XIX o liberalismo e o laicismo, que já campeavam em toda a Europa, estenderam-se também a Portugal. A igreja foi continuamente ameaçada de ser expulsa da vida pública. A maçonaria, a secularização da vida social e a espoliação dos bens da igreja foram-se processando gradualmente, sobretudo e apesar da Carta Constitucional de 1822.


Tanto os partidários de D. Pedro e D. Miguel, na guerra entre os dois irmãos, tentaram o apoio da Santa Sé, mas Gregório XVI declarou-se livre de compromissos políticos, e D. Pedro mandou retirar o Núncio e extinguiu o tribunal da nunciatura. O Papa extingue o nosso padroado.

A crise veio a atenuar-se depois, o exercício do padroado da coroa portuguesa volta a ser restabelecido (1848, 1857, 1886) mas a implantação da República provoca uma nova e grave crise nas relações entre a Igreja e o Estado, as quais vieram a cessar por força da Lei de Separação de 1911 a que Pio X (Giuseppe Melchiore Sarto) em 24 de Maio de 1911, responde com a Encíclica "Jamdudum in Lusitania".

Só em 1918 voltam a ser restabelecidas as boas relações oficiais, por Sidónio Pais. As Aparições de Fátima (1917) e o Apostolado da Oração vieram a constituir eficaz elemento de renovação religiosa no País. Após o Movimento de 28 de Maio de 1926 as relações entre a Igreja e o Estado vieram a normalizar-se, culminando com a assinatura da Concordata e do Acordo Missionário (1940), que têm de específico o estabelecerem o regime de convivência, de separação de poderes e de entendimento em matérias de interesse para ambas as partes, como no caso do ensino e da celebração de casamentos.

( Condensado de Dicionário de História de Portugal de Joel Serrão )

Aparições de Fátima - 96 anos ( 1917 - 2013 )

O Aparecimento de Nossa Senhora Desde 13 de Maio de 1917 que se formara o sentimento popular de que Nossa Senhora de Fátima, depois da festividade da Ascensão, aparecera a três jovens pastores - Francisco, Jacinta e Lúcia - em cima de uma azinheira no lugar da Cova Iria, perto de Fátima. Numa linguagem serena, ter-lhes-ia anunciado uma nova aparição para ajudar a remir os pecados do mundo. 

Logo se espalhou a boa nova, com a promessa de que no dia 13 de Outubro o Sol haveria de dar testemunho da presença miraculosa. Surgindo como um farol de esperança num tempo de inquietação colectiva, as aparições de Fátima consolidavam a força de transcendência em muitas almas sofredoras e muitos corações aflitos. ( Ilustração Portuguesa, do jornalista Avelino de Almeida). 

A nossa participação na Grande Guerra não contribuiu pouco para avolumar a força do mistério nos meios populares.

Assim juntaram-se na charneca de Fátima, no dia 13 de Outubro, algumas centenas de pessoas ( cerca de 70.000 segundo a Britannica ) para tentar uma visão consciente do fenómeno sobrenatural que cinco meses antes se dizia ter ocorrido naquelas paragens. Gente da mais variada origem e meios de vida, de feição abastada ou humilde, chegando de automóvel ou tendo feito longo percurso a pé. Avelino de Almeida, que era um jornalista conceituado, mas totalmente insuspeito de convencionalismo, deixou a seguinte notícia da cena que lhe coube observar:

E quando já não imaginava que via alguma coisa mais impressionante do que essa numerosa mas pacifica multidão (...) que vi eu ainda de verdadeiramente estranho na charneca de Fátima ?

Povo observando o milagre do Sol

A chuva, à hora pronunciada, deixou de cair; a densa nuvem rompeu-se e o astro-rei -- disco de prata fosca -- em pleno zénite apareceu e começou dançando num bailado violento e convulso, que grande número de pessoas imaginava ser uma densa serpentina, tão belas e rutilantes cores revestiu sucessivamente a superfície solar (...) 

Ainda que as autoridades eclesiásticas não quisessem pronunciar-se sobre o fenómeno, (o então Bispo de Leiria era D. José Alves Correia da Silva, que esteve preso dois anos em condições tais, que o deixaram quase incapaz até à sua morte), a notícia de O Século causou uma profunda impressão no Povo, que logo se estendeu de norte a sul do País. O articulista do Século continuava:

« Milagre, como gritava o Povo; fenómeno natural, como dizem os sábios? Não curo agora de sabê-lo, mas apenas de afirmar o que vi...O resto é com a Ciência e com a Igreja.»

Por escrever este artigo, Avelino de Almeida foi despedido do Século ! Ao ter conhecimento do facto, o Dr. Manuel Alegre, governador civil de Santarém, enviou uma força da Guarda Nacional republicana a policiar o local, mas um grupo de antigos carbonários foi à Cova da Iria proceder ao corte da azinheira, que depois circulou nas ruas daquela cidade, num cortejo triunfalista em que se ouviam"morras" à Igreja e "vivas" à República. 

Mais tarde, em 1921 dinamitaram a capelinha das aparições, que foi depois reconstruída no mesmo local.

Capelinha das Aparições
O relato que aqui se deixa não tem outro fim que o de integrar um facto de sentimento colectivo na história do tempo, porque seria impossível negar ou esconder o que as aparições de Fátima representaram na história portuguesa de 1917, e para a história do Mundo Católico a partir dessa data.

O desencanto que muitos estratos da população sentiam com as incertezas da vida política contribuiu para avolumar o acontecimento, que passou de imediato da esfera religiosa para a social. 

Para muitas almas inquietas, o episódio de Fátima tornou-se a voz da redenção oferecida aos que lutam e sofrem, como luz anunciadora de um futuro melhor. As paróquias e igrejas de Nossa Senhora de Fátima, são inúmeras por todos os continentes da Terra, tornando esta difusão de Fé, como o mais palpável e importante Milagre de Fátima !

Primeira Aparição

Na primavera de 1916, Lúcia dos Santos de 9 anos com seus priminhos Jacinta e Francisco Marto de 6 e 8 anos, estavam no pasto com suas ovelhas na gruta do outeiro do Cabeço, perto de Aljustrel, freguesia de Fátima, região de pedras, entre plantinhas e oliveiras e grutas. Enquanto brincavam, de improviso os envolveu uma luz branca e um vento forte sacudiu as árvores. No meio daquela luz a figura de um jovem apareceu, que se apresentou dizendo: "Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai comigo".

Ajoelhando-se na terra, abaixou a cabeça até tocar o solo e fez as crianças repetirem com ele três vezes: " Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram e Vos não amam". Depois ergueu-se dizendo: "Orai assim. Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súpl

Segunda Aparição

Ocorreu no verão, quando os pastorezinhos brincavam junto ao poço da casa de Lúcia. O Anjo se dirigiu a eles com estas palavras: " Que fazeis? Orai! Orai Muito! Os Corações Santíssimos de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios". 

As crianças perguntaram: "Como nos havemos de sacrificar?". O Anjo respondeu: "De tudo que puderdes, oferecei a Deus um sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim sobre vossa pátria a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar".

A partir deste momento os pastorezinhos começaram a oferecer ao Senhor tudo aquilo em que podiam mortificar-se.

Terceira Aparição

Ocorreu no Outono de 1916 no Cabeço. As crianças tinham começado as orações quando apareceu uma luz e viram o Anjo que trazia na mão esquerda um cálice e suspensa sobre ele uma Hóstia, da qual caíam dentro do cálice algumas gotas de sangue.

Deixando o cálice e a Hóstia suspensos no ar, prostrou-se em terra junto deles e repetiu três vezes a oração: "Santíssima Trindade, Padre, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores".

Depois, levantando-se, deu a Hóstia a Lúcia e o que continha o cálice deu-o a beber a Jacinta e a Francisco, dizendo ao mesmo tempo: "Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus".

Quarta Aparição

Em Agosto as crianças foram impedidas pelas autoridades civis anti-eclesiásticas de irem ao encontro do dia 13, onde estava reunida uma enorme multidão. As crianças por dois dias foram fechadas e ameaçadas de torturas para que desmentissem, mas não cederam; estavam prontas para oferecerem suas vidas para não trair as promessas feitas a Nossa Senhora. Então foram libertadas.

Em 19 de Agosto, enquanto pastorejavam o rebanho num lugar chamado Valinhos, viram a Senhora sobre uma azinheira. "O que queres de mim?", disse Lúcia. "Quero que continueis a ir à Cova da Iria no dia 13 e que continueis a rezar o terço todos os dias. No último mês farei o milagre para que todos acreditem". Depois, com um aspecto mais triste disse: "Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas".

Quinta Aparição

Em 13 de Setembro cerca de 30.000 pessoas os acompanharam à Cova da Iria e ali recitaram o Rosário; pouco depois apareceu a Senhora sobre a azinheira. "Continuem a rezar o terço para alcançarem o fim da guerra. Em Outubro virá também Nosso Senhor, Nossa Senhora das Dores e do Carmo e São José com o Menino Jesus, para abençoarem o mundo. Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer que durmais com a corda, trazei-a só durante o dia".

"Não quero mais nada". Em seguida, abrindo as mãos, Nossa Senhora fê-las reflectir no sol, e enquanto Se elevava, continuava o reflexo da sua própria luz a projectar-se no sol. Lúcia nesse momento exclamou: "Olhem para o sol!". Então aconteceu o sinal prometido, o sol extraordinariamente brilhante, mas não a ponto de cegar.

O sol começou a girar sobre si mesmo, projectando em todas as direcções feixes de luz de todas as cores que reflectiam-se e coloravam as nuvens, o céu, as árvores, a multidão. Parou por certo tempo e depois recomeçou, como antes, girando sobre si mesmo. De repente parecia que se destacava do céu para precipitar-se sobre a multidão que assistia aterrorizada, caia de joelhos e invocava misericórdia.

No entanto as crianças viram ao lado do sol Nossa Senhora vestida de branco com o manto azul e São José com o Menino que abençoava o mundo. Depois desta visão, viram O Senhor que abençoava o mundo, com Nossa Senhora das Dores a seu lado. Desaparecida esta visão, viram Nossa Senhora do Carmo. Terminado o milagre as pessoas se deram conta de terem tido suas roupas completamente secadas. 

Visitas Papais a Fátima

Em 1956 - O Cardeal Roncalli, Patriarca de Veneza, futuro Papa João XXIII, preside à Peregrinação Internacional Aniversaria.


Em 1967 - O Papa Paulo VI

Desloca-se a Fátima, no cinquentenário da 1ª Aparição de Nossa Senhora,para pedir a paz no mundo e a unidade da Igreja. 

Em 1982 1ª Visita de João Paulo II 

O Papa João Paulo II vem em peregrinação a Fátima agradecer o ter escapado com vida, um ano antes, na Praça de S. Pedro, e, de joelhos, consagra a Igreja, os Homens e os Povos, com menção velada da Rússia, ao Imaculado Coração de Maria.



 Em 1991  2ª Visita de João Paulo II 

O Santo Padre João Paulo II vem pela segunda vez a Fátima, como peregrino, no 10º aniversário do seu atentado na Praça de S. Pedro, no Vaticano, presidindo à Peregrinação Internacional Aniversária. 

Em 2000  3ª Visita de João Paulo II- 

13-05-2000 - Por ocasião da 3ª visita de João Paulo II a Fátima, o Santo Padre beatificou Francisco e Jacinta Marto.

Em 2005 - Falecimento da Ir. Lúcia.

Em 2010 - Visita de Bento XVI

A visita apostólica do Papa Bento XVI a Portugal decorreu no dias 11 a 14 de Maio de 2010. Os propósitos principais desta visita papal são a celebração do 10.º aniversário da beatificação dos pastorinhos Jacinta Marto e Francisco Marto, videntes de Fátima, e o contacto com as dioceses de Lisboa, Leiria-Fátima e Porto.

O Papa Bento XVI chegou ao Aeroporto da Portela, em Lisboa, na manhã do dia 11 de Maio.

Após um encontro na Nunciatura apostólica com o corpo diplomático e representantes do Estado, visitou o Mosteiro dos Jerónimos e foi recebido pelo Presidente Aníbal Cavaco Silva no Palácio de Belém.

No final da audiência, o Papa saudou também os funcionários do Palácio de Belém. Ao fim da tarde, ele celebrou uma missa no Terreiro do Paço, no centro da capital portuguesa.

História da Diocese de Lisboa

Uma antiga tradição fala-nos de Veríssimo, Máxima e Júlia, como mártires lisbonenses na perseguição de Diocleciano (viragem do século III para o IV). O certo é que, meio século depois, encontramos a diocese presidida por Potâmio, seu primeiro bispo conhecido, que interveio nas polémicas doutrinais do Cristianismo de então (arianismo).

No século V chegaram os bárbaros. Sob a monarquia visigótica, os bispos de Lisboa participaram em vários concílios, de Toledo, de Viarico no de 633 a Landerico no de 693. Como sucedeu por toda a parte, datará desta época a descentralização do culto, da cidade para os campos em redor, constituindo-se as primeiras paróquias rurais.

Dos princípios do século VIII a meados do XII, Lisboa esteve sob domínio muçulmano. Não conhecemos o nome de nenhum dos seus bispos deste período, mas continuaram a existir cristãos na cidade e seu território. Aquando da tomada de Lisboa aos mouros, em 1147, existia um bispo moçárabe ( = cristão sob domínio muçulmano) em Lisboa.

Depois da conquista, a diocese foi refeita, ficando por seu bispo o inglês D. Gilberto, vindo com os cruzados: Lisboa ficaria oficialmente ligada (sufragânea) à arquidiocese de Compostela até ao fim do século XIV. Construiu-se a Sé, no local onde fora a mesquita e talvez antes a Sé visigoda, sendo o único monumento românico que resta na capital.

Sé de Lisboa

A Sé tinha o seu Cabido de cónegos que apoiavam o bispo e mantinham uma escola capitular. Nessa escola estudaria em menino Santo António de Lisboa, já na viragem para o século XIII. Além da Sé e das paróquias que rapidamente se estabeleceram, a partir talvez de antigas comunidades moçárabes, Lisboa viu levantar-se por iniciativa de D. Afonso Henriques o mosteiro de S. Vicente de Fora (por ficar fora das muralhas da altura).

S. Vicente foi martirizado em Valência no século IV, e as suas relíquias foram depois muito veneradas pelos moçárabes no cabo algarvio que tem o seu nome. O nosso primeiro rei trouxe-as para Lisboa, ficando guardadas na Sé. O referido mosteiro foi um importante centro cultural e nele se formou também Santo António.

Em 1289 o bispo D. Domingos Jardo fundou o colégio dos Santos Paulo, Elói e Clemente, para o ensino de cânones e teologia. Pouco depois e, com intermitências, até ao século XVI, Lisboa dispôs duma Universidade fundada por D. Dinis com o apoio do clero. A Universidade só ensinou Teologia a partir do século XV, sendo até aí ministrada nos conventos dos dominicanos e franciscanos, levantados no século XIII. Na segunda década deste século nasceu em Lisboa Pedro Julião, mais tarde papa com o nome de João XXI (1276-1277).

Em 1393, Lisboa foi elevada a metrópole eclesiástica, sendo seu primeiro arcebispo D. João Anes. Ficaram-lhe sufragâneas várias dioceses portuguesas do centro e sul, a que se juntaram outras, ultramarinas, no século seguinte. No século XVI, o cardeal D. Henrique, arcebispo de Lisboa, aplicou na diocese os decretos reformadores do Concílio de Trento, devendo-se-lhe, nomeadamente a fundação do seminário diocesano de Santa Catarina em 1566. Era um estabelecimento modesto e os seus alunos frequentavam as aulas do grande colégio jesuita de Santo Antão.

Eram tempos de intensa vida religiosa, alimentada por muitas congregações religiosas e associações de piedade e caridade, ligadas a mosteiros, conventos e paróquias: a primeira Misericórdia foi fundada em 1498 numa capela do claustro da Sé de Lisboa. Desde o final do século XV não se permitiam divergências religiosas no país; mas a missão ultramarina - tão magnificamente evocada no mosteiro dos Jerónimos - pedia constantemente obreiros: entre tantos outros, Lisboa deu S. João de Brito à Índia e o Padre António Vieira ao Brasil, ambos jesuítas do século XVII.

Em 1716, o papa Clemente XI elevou a capela real a basílica patriarcal, ficando a antiga diocese dividida em duas até 1740, ano em que foi reunificada. Sucederam-se até hoje dezassete patriarcas à frente da Igreja lisbonense, de D. Tomás de Almeida a D. Manuel Clemente: os patriarcas de Lisboa são sempre feitos cardeais no primeiro consistório a seguir à sua nomeação para esta Sé.

D. Tomás de Almeida

Depois do grande terramoto de 1755, teve de se remodelar o tecido paroquial de Lisboa, com outros templos e outras delimitações. A reorganização das paróquias da cidade, feita pelo patriarca D. Fernando de Sousa e Silva em 1780, ficou como base dos complementos ulteriores. Nesse mesmo ano, a rainha D. Maria I cedeu-lhe o antigo colégio dos jesuítas em Santarém, para aí transitando o seminário diocesano. Foi também D. Maria I quem mandou construir a basílica da Estrela em honra do Sagrado Coração de Jesus.

Após grandes perturbações ligadas às invasões francesas e às lutas liberais com as respectivas sequelas, a reorganização diocesana deveu-se especialmente ao patriarca D. Guilherme Henriques de Carvalho, em meados do século XIX. Foi ele quem conseguiu reabrir o seminário diocesano de Santarém em 1853. Os seus sucessores até à terceira década do século XX tiveram de sustentar a vida católica contra grandes reptos ideológicos e institucionais, antes e depois da implantação da República.

D. Manuel Gonçalves Cerejeira -14º Patriarca

Manuel Gonçalves Cerejeira GCC • GCSE • GCIH (Vila Nova de Famalicão,Lousado, Santa Marinha, 29 de Novembro de 1888 - Amadora, Buraca, 2 de Agosto de 1977 ou Lisboa, Benfica, 11 de Agosto de 1977), cardeal da Igreja Católica, foi o décimo-quarto Patriarca de Lisboa com o nome de D. Manuel II (nomeado em 18 de Novembro de 1929).

Eleito arcebispo de Mitilene em 1928, foi elevado ao cardinalato em 16 de Dezembro de 1929, pelo Papa Pio XI, com o título de Santos Marcelino e Pedro.

Um de quatro filhos e quatro filhas de Avelino Gonçalves Cerejeira (Vila Nova de Famalicão, Lousado, 14 de Abril de 1857 - Vila Nova de Famalicão, Lousado, 13 de Junho de 1927), negociante que viveu no lugar da Serra, freguesia de Lousado, concelho de Vila Nova de Famalicão, e de sua primeira mulher (Vila Nova de Famalicão, Lousado, 25 de Janeiro de 1888) Joaquina Gonçalves Rebelo (Fafe, Vila Cova, 30 de Maio de 1864 - Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Famalicão, 30 de Setembro de 1918), que residiu desde criança na freguesia do Lousado e quando casou era "lavradeira", ou seja, camponesa, foi baptizado na freguesia do seu nascimento a 3 de Dezembro de 1888, na Igreja Paroquial de Santa Marinha do Lousado, sendo seu Padrinho o Avô Paterno, de quem herdou o nome.

Diplomado em Teologia e em Ciências Histórico-Geográficas pela Universidade de Coimbra, na respectiva Faculdade de Letras obteve em 1919 o grau de doutor em Ciências Históricas, com a tese «Clenardo e a Sociedade Portuguesa do seu tempo». Desse ano a 1928 foi professor da Escola onde se graduara.

A partir de 1929, o patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira consolidou a vida diocesana, fomentando as vocações sacerdotais, fundando novos seminários - Olivais (1931), Almada (1935) e Penafirme (1960) - , multiplicando paróquias e impulsionando o apostolado laical. Foi também no seu tempo que reabriu a Sé de Lisboa, depois de arquitectonicamente reintegrada.

O seu sucessor, D. António Ribeiro, continuou-lhe a obra, nos termos novos exigidos pelo Concílio Vaticano II e o Portugal de antes e depois do 25 de Abril. Em 1975 criaram-se as dioceses de Setúbal e Santarém, destacadas do Patriarcado de Lisboa. Em 1984, D. António Ribeiro fundou o seminário de Caparide.

D. António Ribeiro - 15º Patriarca

António Ribeiro (Celorico de Basto, 21 de maio de 1928 — Lisboa, 24 de março de 1998) foi um cardeal português, o 15.º Patriarca de Lisboa, como Dom António II.

Era filho de José Ribeiro (c. 1860) e de sua mulher Ana Gonçalves (c. 1904), ambos de São Clemente de Basto. Estudou no Seminário de Braga, naPontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, na Faculdade Teológica emInnsbruck e na Faculdade Teológica de Munique. Foi ordenado em 5 de julho de 1953, na Arquidiocese de Braga. 

O então arcebispo de Braga, D. António Bento Martins Júnior, mandou-o estudar para Roma onde se doutorou na Pontifícia Universidade Gregoriana com a tese «A Doutrina do Evo em S. Tomás de Aquino. Ensaio sobre a duração da alma separada». 

Depois desta sua formação humanística, filosófica e teológica, António Ribeiro iniciou a sua atividade na Comunicação Social e no ensino. Entre 1959 e 1964 foi membro do corpo docente do Seminário de Braga e ficou responsável pelo programa «Encruzilhadas da Vida», transmitido aos sábados na RTP, em que debate temas de atualidade, frequentemente sugeridos pelos próprios telespectadores. 

Foi docente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, entre 1964 e 1966. Transita para o programa, também na RTP, intitulado "Dia do Senhor", entre 1964 e 1967, onde demonstrou as suas qualidades de comunicador, com um sentido crítico e uma capacidade de leitura cristã dos acontecimentos. 

D. José da Cruz Policarpo -16º Patriarca

José da Cruz Policarpo GCC (Caldas da Rainha, Alvorninha, 26 de Fevereiro de 1936 — Lisboa, Santa Maria dos Olivais, 12 de Março de2014) foi um cardeal português. Como D. José IV, foi patriarca de Lisboaentre 1998 e 2013. Nomeado cardeal em 2001, assumiu até 2013 o título de cardeal-patriarca de Lisboa.

Foi o mais velho de nove filhos e filhas de José Policarpo, Jr. (Pego, Alvorninha, 18 de Abril de 1902 – Odivelas, 20 de Outubro de 1987) e de sua mulher Maria Gertrudes Rosa (Benedita, 17 de Outubro de 1909 – Alvorninha, 6 de Setembro de 1994), casados em Alvorninha a 26 de Janeiro de 1935.

Estudou filosofia e teologia nos seminários de Santarém, Almada e Olivais, em Lisboa, tendo-se licenciado (2º grau canónico) em Teologia Dogmática, em 1968, pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, com uma tese intitulada Teologia das religiões não cristãs. Prosseguiu os seus estudos na mesma universidade, tendo-se doutorado também na área da Teologia Dogmática com a tese "Sinais dos Tempos. Génese histórica e interpretação teológica". Foi ordenado sacerdote em 15 de Agosto de1961.

Em Outubro de 1998, o patriarca D. José Policarpo transferiu os serviços diocesanos para o antigo mosteiro de S. Vicente de Fora, que já os alojara de 1834 a 1910.

D. Manuel Clemente -17º Patriarca

D. Manuel José Macário do Nascimento Clemente GCC (Torres Vedras,São Pedro e Santiago, 16 de julho de 1948) é um cardeal católico português, 17.º e atual Cardeal-Patriarca de Lisboa, com o título de D. Manuel III.

D.Manuel Clemente

Em 4 de janeiro de 2015 o Papa Francisco anunciou a nomeação cardinalícia de D. Manuel Clemente, tendo sido elevado a cardeal-presbíterocom o título da Igreja de Santo António dos Portugueses, S. Antonio in Campo Marzio, em 14 de fevereiro de 2015 no Consistório Ordinário Público de 2015.

Filho de Francisco de Nascimento Clemente e de Maria Sofia Correia Lopes Macário, ingressou em 1973 no Seminário Maior de Cristo Rei dos Olivais e, no ano seguinte, licenciou-se em História na Faculdade de Letras de Lisboa. A partir de 1975 leciona História da Igreja na Universidade Católica Portuguesa. 

Formou-se em Teologia nesta mesma universidade em 1979, ano em que foi ordenado presbítero a 29 de junho, já com 31 anos, pelo Cardeal-Patriarca D. António Ribeiro, na Sé de Lisboa. 

Doutorou-se em Teologia Histórica em 1992 com a tese intitulada ‘Nas origens do apostolado contemporâneo em Portugal. A «Sociedade Católica»’ (1843-1853). Foi diretor do Centro de Estudos de História Religiosa da mesma universidade entre 2000 e 2007. É, desde 1993, membro da Sociedade Científica da Universidade Católica e, desde 1996, Sócio Académico Correspondente daAcademia Portuguesa de História.

Site da Bíblia Católica