terça-feira, 30 de julho de 2013

A Figura de Nuno Gonçalves

Nuno Gonçalves ( 1450-72), 

Um dos grandes mestres da pintura do século XV

Pintor português reconhecido como um dos grandes mestres do século XV. Depois da descoberta em 1882 do seu único trabalho conhecido, a pintura do altar do convento de São Vicente, e depois de 400 anos de anonimato, Nuno Gonçalves foi finalmente reconhecido como o fundador da escola de pintura Portuguesa e um artista de importância Universal.

Aparentemente Gonçalves foi pintor de D. Afonso V em 1450. Francisco de Holanda nos seus "Dialogues on Ancient Painting "(1548), refere-se a Nuno Gonçalves como uma das" águias" um dos mestres do século XV -- mas o seu nome e trabalhos estavam perdidos na história.




A sua obra prima para a catedral de Lisboa foi destruída no terramoto de 1755, e a sua outra obra com o tema de São Vicente, o santo patrono de Lisboa e da casa real de Portugal, desapareceu até 1882, quando foi descoberta no convento de São Vicente. Não foi senão em 1931, quando sua obra foi exposta em Paris, que Gonçalves recebeu o reconhecimento internacional que merecia.

O Políptico de São Vicente (hoje no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa) consiste em seis painéis, dois largos e quatro mais estreitos, dominado pela figura de São Vicente. No maior deles, o "Painel do Infante", o santo é venerado por um grupo de nobres, entre os quais Afonso V. 

No outro "Painel do Arcebispo" ele é rodeado pelos clérigos e cavaleiros. Nesta portentosa galeria de figuras agrupadas numa composição medieval há uma meditação na peregrinação das almas, de cristãos numa viagem de descoberta a volta do santo patrono. Este é o trabalho de um mestre que mostra alguns traços do arte Italiano e flamengo mais que também revela o seus próprios tributos, uma economia de linha, pincelada brilhante, soberba caracterização, e uma maestria de composição, todas unidas e subordinadas a uma visão religiosa do trabalho.


Condensado da informação da Enciclopédia Britanica

sábado, 27 de julho de 2013

A Escravidão em África

Escravidão em África 

O estudo do processo de escravização dos povos africanos é essencial para que se compreenda a situação atual de desigualdade no planeta. Revela uma longa história de exploração e subjugação de populações fragilizadas por outras, mais equipadas. Demonstra também que a desestruturação económica e cultural tem efeitos desastrosos de longa duração. 
Transporte de escravos na África. Gravura de 1890

Do ponto de vista económico, a escravidão foi uma forma eficiente de acumulação primitiva.

No que diz respeito às pessoas, foi uma violência irreparável, que pressupõe, dentre outros fatores, a existência de povos muito pobres, mão de obra excedente que possa ser explorada em benefício de uma minoria.

Assim, parte do atual contexto sócio-económico da África de miséria e exclusão é consequência de fatos passados. 

Escravidão na África: uma antiga forma de exploração 

A escravidão esteve presente no continente africano muito antes do início do comércio de escravos com europeus na costa atlântica. Desde por volta de 700, “prisioneiros capturados nas guerras santas que expandiram o Islã da Arábia pelo norte da África e através da região do Golfo Pérsico" eram vendidos e usados como escravos. Durante os três impérios medievais do norte da África (séculos X a XV), o comércio de escravos foi largamente praticado.

Lovejoy apresenta o conceito de modo de produção escravista (de E. Terray) como fundamental para uma compreensão mais completa do funcionamento político, económico e social da África - e também das colónias portuguesas (?) nas Américas. Segundo sua definição, o modo de produção baseado na escravidão é aquele em que pre-Principais rotas de escravos no fim da Idade Média dominam a mão de obra escrava em setores essenciais da economia; a condição de escravo no mais baixo nível da hierarquia social; e a consolidação de uma infra-estrutura política e comercial que garanta a manutenção desse tipo de exploração.

A escravização do africano pelo africano por interesses Hoje, a escravidão nos choca sob qualquer forma que ela se apresente, todavia, a escravidão africana divergiu profundamente de escravidão racista nas Américas.

Por exemplo, o Kouroukan Fouga, a Constituição do Império do Mali veementemente proíbe maus-tratos ao escravo em seu artigo 20.

Além disso, muitos dos povos africanos adotaram o Islão que, por sua vez, prescreve aos religiosos tratar os escravos “generosamente” (ihsan) (IV, 36) e considera a alforria como um gesto merecedor e uma obra de beneficência.

Muitos escravos puderam, assim, alcançar posições de poder e influência. No Egito temos o exemplo de Abu alMisk Kafur, originalmente escravo de origem etíope que se tornou regente do Egito. Em Marrocos, destaca-se o político Ibn Marjan (d. 1728), um eunuco negro encarregado da tesouraria, bem como dos servos negros no palácio durante a vida do Mawlay Ismael. . No Império Mali, Mansa Sakura, escravo de nascimento, foi libertado e tornou-se um general do exército de Sundiata Keita posteriormente nomeando-se o sexto imã.

A PRESENÇA EUROPEIA NA COSTA ATLÂNTICA E O COMÉRCIO DE ESCRAVOS 

Operador do império Mande.  

Segundo as crónicas árabes, os regimentos negros, chamados ‘abid al-shira’ (escravos comprados), tornaram-se um importante elemento dos exércitos fatímidas. Eles conquistaram um papel principal no reinado de al-Mustansir (1035-1094), graças ao indefectível apoio que lhes foi conferido pela mãe do califa, escrava sudanesa de muito caráter. No apogeu de sua potência, eles eram 50.000. 

Escravos negros também alcançaram destaque na Índia, tendo sido Malik Ambar o mais notável deles sendo referido como o guru da guerrilha Maratha. Na África Ocidental, o jonya era um escravo ligado a uma linhagem. Nas sociedades em que reinou esse sistema, ele pertencia a uma categoria socio-política integrada a classe dominante; era então cidadão exclusivo do Estado e pertencia a seu aparelho político. 

Enquanto sistema e categoria social, o jonya desempenhou um papel considerável e original nos Estados e impérios de Gana, Takrur, Mali, Kanem-Bornu, Ashanti e Iorubá. Os soberanos sudaneses também importavam escravos. Ibn Battuta nos relatou que quando o imperador do Mali sentava no trono em praça pública, atrás dele postavam-se cerca de 30 mercenários mamelucos, comprados para ele no Cairo. Também havia os worossos que eram escravos “nascidos no meio” descendentes dos jons (escravos capturados ou comprados) sendo que ambas as classes de escravos tinham direito de trabalhar em seu próprio benefício por determinado período. 
Povos do Imp´rio Mande

Era possível para eles juntar sua própria propriedade pessoal havendo, inclusive, o termo 'jon ma jon' para definir o escravo pertencente a outro escravo.

O comércio de escravos foi muito importante no Império Songhai.

Os escravos era muitas vezes usado como soldado, e foi muito honrado e digno de confiança. Escravos palacianos eram chamados Arbi. Arbis trabalhavam como músicos, artesãos, ceramistas, e muitos outros trabalhos artísticos. Os escravos também trabalhavam em fazendas para produzir alimentos que apoiava moradores locais. 

Em muitas sociedades africanas, havia muito pouca diferença entre os camponeses livres e os camponeses vassalos feudais. A maioria dos escravos vivia em suas próprias casas en famille. Logo, o mestre era obrigado a prover seu escravo com alguma extensão territorial cultivável na qual ele poderia trabalhar por conta própria, e lhe era permitido um ou dois dias livres na semana onde ele poderia trabalhar em sua própria fazenda ou em qualquer outra ocupação remunerada, ao invés da trabalhar na fazenda gandu de seu senhor. 

Muitas tribos rivais faziam prisioneiros em conflitos e vendiam-nos para árabes e europeus. Existia, também, a escravidão por dívidas. De fato, este foi um dos elementos-chave responsável pela mercantilização dos povos africanos. Nas razias, quando as comunidades eram invadidas, as pessoas eram capturados por grupos armados e, depois de serem levadas até entrepostos no litoral africano, eram trocadas com os traficantes por mercadorias. 

D, Afonso V por von Ehingen 
Os navios negreiros saíam do Brasil provisionados com alimentos para a viagem, além dos gêneros utilizados para a troca, como aguardente de cana, armas dos mais variados tipos, gêneros manufaturados e alimentos.

Pela Bula Dum Diversas, de 18 de Junho de 1452, o papa Nicolau V considera o rei de Portugal D. Afonso V, e seu sucessores, a faculdade de conquistar e subjugar as terras dos "infiéis" e de reduzir a pessoa deles escravatura . 

Já em meados da década de 1470 os “portugueses tinham começado a comerciar nos golfos do Benim e frequentar o delta do rio Níger e os rios que lhe ficavam logo a oeste”, negociando escravos.

Mesmo assim, as primeiras excursões portuguesas à África subsariana foram pacíficas (o marco da chegada foi a construção da fortaleza de São Jorge da Mina, em Gana, em 1482). Embora houvesse a exceção do Mali. Os portugueses chegaram na costa Senegâmbia em 1444, porém, eles não estavam vindo em paz. 

Usando caravelas para lançar ataques e escravizar a população no litoral africano, os territórios vassalos do Mali foram tomados  de surpresa pelos navios e os homens de peles brancas dentro deles. No entanto, o Império Mali rebateu os ataques portugueses com pequenas embarcações. O Mandekalu (exército imperial malinês) infligiu uma série de derrotas contra o português, devido à utilização de flechas envenenadas. As derrotas forçaram o rei de Portugal a despachar seus cortesão Diogo Gomes em 1456 para garantir a paz.


O esforço foi bem-sucedido e concluído em 1462, e o comércio tornou-se o novo foco de Portugal ao longo da Senegâmbia. Os portugueses muitas vezes casavam~se com mulheres nativas e eram aceitos pelas lideranças locais. Os investimentos na navegação da costa oeste da África foram inicialmente estimulados pela crença de que a principal fonte de lucro seria a exploração de minas de ouro, expectativa que não se realizou.

Assim, consta que o comércio de escravos que se estabeleceu no Atlântico entre 1450 e 1900 contabilizou a venda de cerca de 11.313.000 indivíduos. 

Em torno do comércio de escravos, estabeleceu-se o comércio de outros produtos, tais como marfim, tecido, tabaco, armas de fogo e peles . Os comerciantes usavam como moeda pequenos objetos de cobre, manilhas e contas de vidro trazidos de Veneza. Mas a principal fonte de riqueza obtida pelos europeus na África pode ter sido mesmo a mão-de-obra demandada nas colónias americanas e que pareceu-lhes uma boa justificativa para os investimentos em explorações marítimas que, especialmente os portugueses, vinham fazendo desde o século XIV. 

Dessa forma, embora no século XV os escravos fossem vendidos em Portugal e na Europa de maneira geral, foi com a exploração das colónias americanas que o tráfico atingiu grandes proporções. O investimento europeu em guerras geradoras de escravos modificou profundamente a África e também as Américas. Cidades atacavam outras cidades, escravizando a população. Paul Lovejoy faz uma descrição pormenorizada de diversos casos de escravidão. 

Igualmente ele chama a atenção para o caráter de relação de dependência inerente à escravidão, o indivíduo na situação de escravo ficava numa situação em que não tinha autonomia alguma e que dependia do seu senhor para suas necessidades mais fundamentais, como no caso de mulheres que se tornavam concubinas. Desde muito antes da chegada dos portugueses a Gana, a escravidão articulada com a expansão do Islã sempre esteve calcada em interesses sexuais. 

Os árabes vendiam os homens e ficavam com as mulheres, que eram absorvidas pelas comunidades e, conforme incorporavam valores das sociedades de seus senhores, ganhavam maior liberdade. Os filhos eram assimilados pela sociedade muçulmana. Além disso, as mulheres faziam quase todo o trabalho agrícola. A preferência dos traficantes africanos por cativos do sexo feminino foi um fator decisivo para que, no início de seus negócios nessa área, os europeus comprassem muito mais homens do que mulheres. 

Outro fator importante foi a constatação de que os homens eram mais resistentes às péssimas condições de salubridade a que eram submetidos nas longas viagens de travessia do oceano Atlântico em navios negreiros. Também por isso, as populações de escravos, tanto na África como nas Américas, não tinham como se sustentar por meio da reprodução biológica, o que gerava uma constante substituição dos escravos por novas levas e girava a máquina dos negócios dos traficantes. Dessa forma, “o trabalho escravo estava diretamente relacionado à consolidação da infra-estrutura comercial que era necessária para a exportação de escravos”. 

Angola 

Na colónia de Angola, a exportação de mão de obra escrava pelo porto de Luanda terá sido alvo de competição no século XVII entre portugueses e holandeses. É depois da disputa entre os colonizadores, cujo vencedor foi o reino de Portugal, que pode ter se originado a captura direta de escravos, nas chamadas Guerras Angolanas, no seio de certas tribos que tinham lutado contra os portugueses. 

Foi dessa forma que Angola se tornou um centro importante de fornecimento de mão de obra escrava para o Brasil, onde crescia não apenas a produção de cana-de-açúcar no Nordeste, mas também a explora- ção de ouro na região central. Navios com mercadorias de Goa faziam escala em Luanda lá deixando panos, as chamadas “fazendas de negros”. Dali, seguiam para Salvador, na Bahia, carregados de escravos e de outras mercadorias provenientes da Índia (como louças e tecidos). Foi assim que Salvador se tornou um centro difusor de mercadorias da Índia pela América do Sul. Os negócios foram se estruturando aos poucos. 

Num primeiro momento, os governadores da colónia detinham o poder de determinar o preço dos escravos. O pagamento era feito em ouro proveniente de Minas Gerais, no Brasil. Mais tarde, em 1715 a coroa portuguesa proibiu que os governadores se envolvessem com o tráfico. Negociantes provenientes do Brasil (principalmente do Rio de Janeiro, da Bahia e também de Pernambuco) assumiram as rédeas do comércio, que se aqueceu. A principal feira fornecedora de escravos para o porto de Luanda era a feira de Kassanje. 

No século XVIII, a cachaça brasileira (geribita) passou a ter papel de destaque nas trocas, sendo valorizado tanto em Angola quanto no Brasil. Figurava, ao lado da seda chinesa e as armas europeias, como uma das principais moedas de troca. Era, na verdade, a moeda mais corrente, já que o comércio de armas era controlado e a seda chinesa a só chegava à África depois de passar por Lisboa, o que elevava seu preço e reduzia sua liquidez.

Escravos (incluindo seus filhos) reunidos em uma fazenda de café no Brasil, c. 1885 

Outro produto brasileiro valorizado na África era o fumo de corda de Salvador. A crise em Portugal Em 1755, Portugal foi abalado por um terremoto e começou a perder o controle do tráfico. Na tentativa de reverter a situação, em 1761 foram editadas leis que obrigavam os navios a fazer escala em Lisboa ou em uma alfândega em Luanda. Mas, até 1769, apenas quatro navios haviam seguido as novas leis. O que levou à construção de presídios para abrigar os desobedientes. No continente africano, a submissão das populações também já não era tão simples como no passado. 

Povos do interior começaram a organizar ataques com armas obtidas no comércio realizado no litoral do Atlântico. Tentou-se inclusive, embora sem sucesso, constituir uma cavalaria em Angola. Pouco a pouco, a escravatura foi sendo abolida. No entanto, foi também no século XVIII que Portugal tomou a dianteira na abolição da escravatura. Foi no reinado de dom José I, a 12 de Fevereiro de 1761, pelo Marquês de Pombal, que se aboliu a escravatura no Reino/Metrópole e na Índia.  

A PRESENÇA EUROPEIA NA COSTA ATLÂNTICA E O COMÉRCIO DE ESCRAVOS 

Os reflexos nas sociedades As medidas protecionistas adotadas por Portugal afastaram os negociantes brasileiros para outros portos menos controlados, e a exclusão do intermédio português no trá- fico então foi conquistada. Em 1840, cessa o tráfico através de Luanda, e brasileiros tocam as últimas décadas de comércio escravo. A escravização de populações africanas começou a perder fôlego quando, no início do XIX, ingleses e franceses abandonam o tráfico e começam a pressão para sua extinção. 

Até quando os ingleses passaram a afundar os navios negreiros que cruzavam o Atlântico, as fazendas que produziam café no sudeste do Brasil ainda usavam mão de obra escrava proveniente da África ou descendente de escravos africanos. O sobado de Kabuko Kambilu Ao sul de Luanda, deságua o Rio Kwanza, que vem do interior do continente. Esse rio foi de fundamental importância na penetração portuguesa, além de servir de corredor para a comercialização de mercadorias de regiões interioranas como Lunda, Kassanje, Malanje, Lubolo, Matamba, Ambaca, Cazembo e outras. 

Às margens desse rio, tradicionalmente, se organizavam os sobados, agrupamentos de famílias que respeitavam o chefe de linhagem, que, por sua vez, prestava obediência ao soba, líder escolhido por conselheiros. De maneira geral, os sobas serviram como instrumentos de dominação e controle das sociedades africanas pelos europeus. Durante o período colonial, o soba se transformou num vassalo do colonizador, sob a ameaça de receber em seu povoado uma “expedição punitiva”, ou seja, saque e escravização. 

Em troca da obediência, tinha maior acesso a mercadorias, o que teoricamente aumentava seu poder local. Na outra face da moeda, nota-se que, no século XIX, os portugueses dependiam totalmente da lealdade de sobas influentes. Kabuku Kambilu era um dos maiores sobados da região de Angola, já forte antes da chegada dos portugueses no século XVI. O chefe (conhecido como Kabuku Kambilu) era reconhecido pelos demais sobados como a “primeira autoridade”, detentor de poderes mágico-religiosos. 

A ordem foi desequilibrada quando o grupamento se aliou aos portugueses e, entre 1875 e 1880, adotou uma política de agressão armada aos sobados vizinhos, passando a controlar grande parte do comércio e do tráfico. Com o passar do tempo, entretanto, as desavenças internas e o crescente descontentamento dos portugueses tiraram do Kabuko suas principais fontes de renda: o monopólio da travessia do Rio Lukala e as feiras de Mukoso, Kangongue e Lukala. Mais tarde, fazendeiros brancos de Cazengo expandiam suas propriedades até os limites da área ocupada pelo do povo do Kabuku.  

A África Oriental (Costa do Índico e Madagascar) 

Não foi apenas em Angola que os portugueses agiram. Juntamente com a exploração do Atlântico, eles alcançaram o continente africano pela costa do oceano Índico, encontrando, nas cidades costeiras, o povo suaíli. O centro do poder português na exploração da África oriental era Goa (costa oeste da Índia). Indianos mantinham relações de comércio com a África Oriental desde o século XV. 

A presença portuguesa se consolidou na Zambézia no século XVI. Foram feitas alianças com alguns chefes locais que receberam armas de fogo em troca de terras em que exploravam aldeias. Mesmo os aliados, no entanto, eram obrigados ao pagamento de impostos (a chamada curva), sob a ameaça de uma repreensão militar (“empata”). Nessa área, o título do líder era “monomotapa”, que dominava muitos reinos. A ação dos portugueses provocou um desequilíbrio nas forças internas, levando o reino dos Mocarangas a expulsar os Tongas do interior para o litoral, onde eram presas fáceis para os europeus. 

Em 1572, desembarcou, na Zambézia, a expedição de Francisco Barreto, com o intuito de dominar as minas de ouro e prata que se julgavam estar sob o controle do monomotapa. A expedição penetrou na região e perdeu muitos integrantes. Provocou grande destruição, queimando inclusive as capitais de Teve e Manica. Como o ouro era pouco para ambição portuguesa, ali se estabeleceu um sistema diferente. 

Os portugueses construíram pequenos feudos, chamados “prazos”. Sobre eles, sabemos que a herança era passada para a filha do dono, o “prazeiro”, e não para seu filho homem. E que a herdeira era obrigada a casar com um português, de maneira a assegurar a presença de homens portugueses no comando das terras. No fim do século XVII, a população de Chamgamira, em Butua, começou a opor resistência ao domínio português. 

Mais tarde, no século XVIII, a intensificação do comércio e a presença dos “prazeiros” provocaram a insurgência de chefias locais contra a liderança do monomonapa, e em seguida o enfraquecimento do poder africano em geral. Assim, se estabeleceu uma situação de desordem. Tanto os antigos líderes locais como os portugueses perderam poder de influência. Foi nessa situação que chegaram, à região, dois novos exploradores: os holandeses (boers), agricultores que estabeleceram grandes fazendas e absorveram parte da cultura local, passando, inclusive, a falar um misto do idioma holandês com linguagens locais, chamado africâner; e os ingleses, financiados pelo empresário Cecil Rhodes,  

O legado da escravidão que assumiram o tráfico de escravos. Os aliados locais dos britânicos eram os Ngunis, que dominaram os povos das regiões de Tongas e Carangas depois de muita guerra, negociavam-nos com os negreiros. Outro fenómeno é digno de nota na região nesse período: o aumento da influência árabe, com a difusão do islamismo na região.  A transformação da escravidão na África Como se viu, no início do século XIX havia forte pressão para que o tráfico de escravos africanos promovido por europeus fosse extinto. 

Esse movimento, ao contrário do que se poderia esperar, não extinguiu a escravidão no continente africano, mas fez nascer o modo de produ- ção escravista dentro da própria África. Diferente, como não poderia deixar de ser, daquele praticado nas colônias americanas, o modo de produção escravista na África foi incorporado de muitas maneiras. Foram introduzidas plantations (principalmente na savana setentrional), além do trabalho em minas na chamada Costa do Ouro (que contava com um estado centralizado capaz de continuar coagindo indivíduos à escravidão). 

Ocorre que não havia na África como controlar todo aquele contingente de indivíduos escravizados sem a ajuda dos europeus. Muitos fugiam ou se revoltavam encorajados pela retórica abolicionista de missionários e reformadores – figuras que se tornavam cada vez mais comuns. “A imposição do colonialismo extinguiu a escravidão como um modo de produção e marcou a completa integração da África na órbita do capitalismo”. 

Não se deve incorrer no erro, no entanto, de acreditar que um sistema tão arraigado ao longo de séculos na cultura africana pudesse ser simplesmente abandonado e esquecido de um momento para o outro. O que se deu, a princípio, foi a transição do tráfico de escravos para o comércio “legítimo” – um processo repleto de problemas e de implicações. A persistência da prática no Daomé (antigo reino africano localizado na região em que hoje está o Benim) é um exemplo ilustrativo. 

Apoiado pelo rico e influente traficante de escravos brasileiro Francisco Félix de Souza (Chacha), ocorreu ali um golpe de estado. Em 1818, chegou ao fim o curto e polémico reinado de Adandozan. Quem assumiu o comando, Guezô, permaneceu no poder por quarenta anos, nos quais incentivou o novo comércio, superando a “crise de adaptação” com sucesso. Assim como no golfo de Biafra, em Daomé o comércio de escravos e o de azeite de dendê (principal mercadoria do comércio legítimo) se expandiu até a década de 1860. 

Mas, a partir de 1840, o declínio do tráfico já se mostrava iminente.  O legado da escravidão A venda de indivíduos na condição de escravos organizada por europeus uniu a África e as Américas, da mesma maneira que a escravidão havia atraído povos africanos para a órbita islâmica. Em termos demográficos, o Brasil foi redesenhado nos três séculos de tráfico de escravos. É claro que a escravidão deixou um legado de inúmeros problemas. 

O preconceito racial, o desdém pelo estudo da história africana, e até mesmo o desprezo pelo trabalho por aqueles que estão no topo da pirâmide económica. Estimulada por novos “preceitos da ciência”, como o darwinismo social, a discriminação racial se acentuou no XIX e, mais de um século após a abolição da escravatura no Brasil, a maior parte das escolas particulares desses país ainda têm mais brancos do que negros. São os brancos que alcançam os melhores postos de trabalho e os salários mais elevados. 

E, para agravar a situação, a população negra do Brasil experimentou um processo de assimilação. A miscigenação, que se verificou desde o tempo colonial (e não ocorreu nas regiões americanas colonizadas por ingleses, franceses e espanhóis) se tornou uma forma de ascensão social e inibiu movimentos de afirmação de um povo que sempre foi majoritário no país – e nunca alcançou o poder.

Atualmente, numa iniciativa que visa à redução das distorções históricas, estão sendo estabelecidas cotas para garantir o acesso de todos à educação, à saúde e ao trabalho. 

São de se ressaltar também a lei 9 394, segundo a qual “O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia”, e a lei 10 639, sancionada em 2003 e ainda não implementada, que inclui no currículo oficial dos estabelecimentos de ensino básico das redes pública e privada o estudo obrigatório de história e cultura afro-brasileira. Na África, o resultado do sistema escravagista foi devastador. 

Comunidades que antes conviviam pacificamente se militarizaram e travaram guerras infindáveis. Enquanto durou a escravidão, os escravos, assim “produzidos”, eram vendidos em feiras e exportados. Depois, os antagonismos étnicos entre os capturados e os captores se acentuaram, de forma que mesmo após a retirada dos últimos colonizadores, já no final do século XX, as guerras continuaram ocorrendo. 

Houve mais interferências externas. O empresário inglês Cecil Rhodes, por exemplo, investiu largamente em mineração, e fundou o estado da Rhodésia, depois dividido em Rhodésia do sul e Rhodésia do norte, hoje Zâmbia e Zimbábue. Queria formar um império inglês. 6 5 VER TAMBÉM Mais tarde, o problema foi agravado, e generalizado, pelo fato de a África ter sido dividida em países artificiais, forjados pela régua dos burocratas da Organização das Nações Unidas (ONU) após a Segunda Guerra Mundial. 

Sem levar em conta a cultura local, a ONU subjugou ao tacão de líderes não reconhecidos como tal, povos com hábitos, idiomas e economias diversas. Outras circunstâncias contribuíram para que a África chegasse ao século XXI como o continente mais pobre, injusto e desigual do planeta. Uma delas foi a introdu- ção de mercadorias estrangeiras, ainda no tempo colonial, que provocou a ruína do sistema de produção local. Em Angola, o sistema do sobado entrou em decadência com a implantação de plantations. 

Outros centros comerciais próximos ao Rio Kwanza, como o Dongo, passaram a comercializar borracha, cera, café, amendoim e outros produtos demandados pelos europeus – em detrimento da produção de bens de subsistência essenciais para a população. O resultado dessa história milenar de exploração e injustiça são as guerras civis e a extrema pobreza em que o continente chafurda até os dias atuais.

Conclusão 

A escravatura foi determinante na conformação das sociedades brasileira e africana. Na África, a exploração da mão de obra escrava, primeiro pelos árabes e depois pelos europeus, provocou uma desestruturação de enormes proporções. 

No Brasil, criou uma situação social em que as oportunidades ao alcance dos afro-descendentes eram e, infelizmente, por vezes ainda o são diferentes do que as oferecidas aos euro-descendentes e aos originários da Ásia. Nesse movimento, muitos dos povos africanos perderam sua cultura, sua liberdade, suas riquezas. A história mostra que há pontos de inflexão, em que as transformações se mostram inevitáveis, e ocorrem em processos pacíficos ou por revoluções. 

No entanto, como afirmou o economista Celso Furtado, "... as observações que vimos de fazer referem-se a simples hipóteses escolhidas em um campo aberto de possibilidades históricas. Por exemplo: é possível que se prolongue por muito tempo a fase de estagnação...”. 


NOTA - Esta informação foi retirada da Wikipedia.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

A Figura de Vasco da Gama


Quem era Vasco da Gama?

Vasco da Gama, nasceu provavelmente em Sines, em Salas ou em alguma aldeia próxima, no final da década de 1460 - cerca de 1469. É o terceiro filho de Estêvão da Gama, cuja família era oriunda da vila de Olivença e de Isabel Sodré, descendente do fidalgo inglês Sudley, que viera há muito a Portugal para participar nas guerras contra Castela.

Perito em navegação, protegido por D. Jorge, filho ilegítimo de D. João II e pelo prior do Crato, D. Diogo de Almeida, Vasco da Gama é fidalgo da Casa Real, cavaleiro da Ordem



de Santiago e presta importantes serviços a D. João II, principalmente na repressão contra corsários franceses.

D. Manuel I, atraído por esse indómito capitão que todos diziam obstinado, " audaz na acção, severo no comando e terrível na sua cólera", nomeia-o capitão-mor da armada que irá descobrir o caminho marítimo para a Índia.


Vasco da Gama partiu de Lisboa ( Restelo ), a 8 de Julho de 1497, levando três naus e um navio de mantimentos. Chegou à ilha de Santiago ( Cabo Verde ) nos princípios de de Agosto e, a 8 de Novembro, ancorou na angra de Santa Helena ( ainda na costa ocidental da África ), após uma larguíssima rota através do Atlântico Sul.

Uma vez dobrado o cabo da Boa Esperança e a seguir, os cabos das Agulhas e do Infante, ancorou na Angra de S. Brás, onde foi destruído o navio dos mantimentos. Passou ao largo do cabo do Recife e rumou então para o Norte. Alcançou o rio dos Bons Sinais ( Foz do Zambeze ), Quelimane, em Moçambique ), aportando depois a Mombaça e Melinde ( duas cidades do actual Quénia ).



Foi em Melinde que Vasco da Gama, tendo obtido as boas graças do sultão local, conseguiu que este lhe cedesse um piloto conhecedor dos segredos que permitiam uma boa travessia do Índico. 

Com tão preciosa colaboração, Vasco da Gama e os seus homens alcançaram finalmente a Índia, aportando a Capua ( duas léguas a norte de Calecute ), no dia 20 de Maio de 1498.E assim, pela primeira vez, ficava estabelecida a ligação, por via marítima, entre a Europa e a longínqua Índia e imortaliza-o, pois ainda à bem pouco tempo, a revista Life considerou-o uma das 100 figuras mundiais mais importantes, do último milénio.

Regressa a Lisboa a fins de Agosto de 1499, sendo recebido apoteoticamente pelo rei e pelo povo. 


D Manuel II cumula-o de honras e dádivas, concede-lhe o distintivo de Dom, extensivo à família, nomeia-o almirante do mar da Índia e promete-lhe o título de conde.

Volta a regressar à Índia em 1502 para castigar a chacina dos homens de Pedro Álvares Cabral e exerce ferozes represálias sobre Calecute e lançou as bases da hegemonia portuguesa no Índico.

Volta à Índia em 1524, já como conde da Vidigueira investido por D. João III no título de vice-rei levando amplos poderes para atalhar os abusos e excessos de alguns idalgos. 

Volta a fazer justiça, impondo a ordem com mão de ferro, mas adoeceu gravemente em Cochim, onde faleceu a 24 de Dezembro do mesmo ano.

Em 1538 os seus restos mortais foram repatriados para a Vidigueira, para a capela da Quinta do Carmo e transladados no final do século passado para o Mosteiro dos Jerónimos.


quarta-feira, 24 de julho de 2013

A ponte romana de Alcântara



A ponte de Alcântara

É indescritível a impressão que produz a ponte, monumento sem par no mundo entre os do seu género e época, cuja grandiosidade apenas somos capazes de compreender. O assombro que causa contemplar a ponte desde cima, sendo imenso, não é comparável ao que produz vista debaixo, desde a orilha do rio.

Pilares e arcos alçam-se no espaço com arrogância e firmeza inverosímeis, criando naquele que os contempla o duplo complexo da pequenez e da grandeza humana, porque se sente insignificante junto a aquela mole de pedra e orgulhoso ao pensar que é obra do homem. 

Esta imensa mole de pedra granítica, foi concluída entre os anos 105 e 106 da nossa Era. Fez-se a expensas de onze municípios da Lusitânia, sob a direcção de Cayo Julio Lacer, reinando Trajano, na via de Norba (Cáceres) a Conimbriga (Condeixa-a-Velha).

Salva com só seis arcos os 194 metros de comprimento do profundo barranco que o rio Tejo abre entre os penhascos de um lugar donde não houve cidade romana e cavalga entre dois recodos do caudal do rio que atenuam o ímpeto da corrente, mas donde a acumulação de agua impede multiplicar os pilares.

A cota de la via e as grandes crescidas obrigaram a descomunal altura de 48 metros para os dois arcos centrais que com a sua grande largura de 27,34 e 28,60 metros ocupam o caudal das águas e deixam fácil passo à corrente; de 24 metros os seguintes e tão só de 18,47 os laterais, formam seguro contraforte da pressão do central. A Altura total é de 71 metros.

Na ponte há um tabuleiro de mármore com inscrição do ano de 105 a 106 de J. C. dedicada a Trajano, e mais outras duas onde aparecem os nomes dos municípios da Lusitânia que contribuíram para a obra, Igaeditani, Lancienses, Oppidani, Talori, Interannienses, etc., o que demonstra que a ponte não foi obra do estado, mas sim comunal. 

Ponte Romana de Alcântara concluída entre 105 a 106 DC e dedicada a Trajano
No lado esquerdo da ponte há uma inscrição que diz que foi o arquitecto Cayo Julio Lacer que edificou esta ponte e que diz "que esta ponte durará tanto quanto o mundo durar".

Acima da ponte, no leito do rio, encontra-se uma barragem hidroeléctrica , a mais importante, no seu tempo, da Europa Ocidental (3 162 milhões de m3). A superfície inundada é de 10 400 há e a longitude do açude é de 91 km.


Desde o século XIII até hoje, um dos arcos foi várias vezes cortado nas guerras e reconstruído depois. 

Em 1475, nas lutas de Castela e Portugal, quando pensavam derruba-lo para evitar que Alfonso V o cruzasse, se salvou pela galhardia do português que mandou dizer a seu inimigo o duque deVillahermosa que ele daria um rodeio, pois "não queria o reino de Castela com menos aquele edifício".

Mais tarde foi recomposto por Carlos V em 1543 desfigurando o perfil do arco central, depois porCarlos III e novamente, em 1860, por dona Isabel II. Nesta última restauração, séc. XIX, taparam-se as juntas das pedras.

Historia

A sua situação junto ao rio Tejo, e sua proximidade à fronteira portuguesa, serão dois factores determinantes de seu passado histórico e artístico. 

Conservam-se magníficas obras artísticas que abrangem desde os tempos pré-históricos até a Idade Moderna, por isso Alcântara pode considerar-se como uma população excepcional, por conter um rico património artístico. Foi o berço de São Pedro de Alcântara, místico reformador da Ordem Franciscana.

A existência de grupos populacionais nas suas imediações durante a pré-história nos o certifica o achado de sepulcros megalíticos e um povoado fortificado da Idade do Ferro. Durante a dominação romana se levará a cabo uma importante empresa construtiva, como é a realização de uma ponte sobre o rio Tejo.

Esta ponte comunicava vários municípios do norte do Tejo com a região do sul. No entanto não parece que seja até a dominação árabe quando se estabeleça na actual Alcântara um grupo populacional permanente, então denominada "Cántara-as-Saif" (ponte da espada), que teria como missão principal o controlar o passo pela ponte.

Durante a Reconquista, Alcântara foi um ponto muito cobiçado, devido a sua situação estratégica e pela presença da ponte, com o qual se controlava a passagem de exércitos e ganhos.

Após uma etapa de instabilidade, na qual passou sucessivamente a mãos cristãs e muçulmanas, será definitivamente conquistada por Alfonso IX de Leão em 1213 e, após pertencer à Ordem Militar de Calatrava, será cedida em 1218 à Ordem Militar de São Julião de Pereiro, que transladarão a Alcântara sua Casa matriz e mudarão sua denominação pela de Ordem Militar de Alcântara. 

Devido a seu lugar fronteiriço com Portugal, Alcântara foi palco de numerosos eventos bélicos durante os séculos XVlI e XVIII, chegando as tropas portuguesas a ocupar a praça em diversas ocasiões.

Esta breve revisão do passado histórico da população, permite-nos compreender a existência de uma série de construções significativas, pelas quais podemos comprovar o papel histórico que desempenhou Alcântara.

Provavelmente a ponte romana, os restos da muralha árabe, a presença da Conventual de São Benito, casa matriz da Ordem de Alcântara, a existência de numerosos palácios senhoriais e as reformas efectuadas nos tempos modernos da primitiva muralha, sejam os principais elos do seu passado histórico.


terça-feira, 23 de julho de 2013

Descobrimentos portugueses


Descobrimentos portugueses

Os chamados descobrimentos portugueses foram o conjunto de conquistas realizadas pelos portugueses em viagens e explorações marítimas entre 1415 e 1543 que começaram com a conquista de Ceuta na África. Os descobrimentos resultaram na expansão portuguesa e deram um contributo essencial para delinear o mapa do mundo, impulsionados pela Reconquista e pela procura de alternativas às rotas do comércio no Mediterrâneo. Com estas descobertas os portugueses iniciaram a Era dos Descobrimentos europeus que durou do século XV até ao XVII e foram responsáveis por importantes avanços da tecnologia e ciência náutica, cartografia e astronomia, desenvolvendo os primeiros navios capazes de navegar em segurança em mar aberto no Atlântico.


Planisfério de Cantino (1502), a mais antiga carta náutica portuguesa conhecida, mostrando o resultado das viagens de Vasco da Gama à Índia, Colombo à América Central,Gaspar Corte Real à Terra Nova e Pedro Álvares Cabral ao Brasil, com meridiano de Tordesillas assinalado. Biblioteca estense universitária de Modena.

Embora com antecedentes no reinado de D. Dinis (1279) e nas expedições às Ilhas Canárias do tempo de D. Afonso IV, é a partir da conquista de Ceuta em 1415, que Portugal inicia o projecto nacional de navegações oceânicas sistemáticas1 que ficou conhecido como "descobrimentos portugueses".

Terminada a Reconquista, o espírito de conquista e Cristianização dos povos muçulmanos subsistia. Os portugueses dirigiram-se então para o Norte de África, de onde tinham vindo os mouros que se haviam estabelecido na Península Ibérica. Avançando progressivamente pelo Atlântico ao longo das costas do continente africano, passaram o Cabo da Boa Esperança e entraram no Oceano Índico movidos pela procura de rotas alternativas ao comércio Mediterrânico. Chegaram à Índia em 1498, simultaneamente exploraram o Atlântico Sul e aportaram nas costas do Brasil em 1500, navegando no extremo da Ásia chegaram à China em 1513 e ao Japão em 1543.

As expedições prolongaram-se por vários reinados, desde o tempo das explorações na costa africana e americana impulsionadas pelo regente D. Pedro, duque de Coimbra e o Infante D. Henrique, filhos de D. João I, e mais o seu sobrinho D. Infante D. Fernando, duque de Viseu, até à ao projeto da descoberta de um caminho marítimo para a Índia no reinado de D. João II, culminando com o do D. Manuel I a altura em que império ultramarino português fica consolidado.

Antecedentes

Com a Reconquista concluída, Dinis I de Portugal interessou-se pelo comércio externo, organizando a exportação para países europeus. Em 1293 instituiu a chamada Bolsa dos Mercadores, um fundo de seguro marítimo para os comerciantes portugueses que viviam no Condado da Flandres, que pagavam determinadas quantias em função da tonelagem, que revertiam em seu benefício se necessário. Vinho e frutos secos do Algarve eram vendidos na Flandres e na Inglaterra, sal das regiões de Lisboa, Setúbal e Aveiro eram exportações rentáveis para o Norte da Europa, além de couro e Kermes, um corante escarlate. Os portugueses importavam armaduras e armas, roupas finas e diversos produtos fabricados da Flandres e da Itália .

Em 1317 D. Dinis fez um acordo com o navegador e mercador genovês Manuel Pessanha (Emanuele Pessagno), nomeando-o primeiro almirante da frota real com privilégios comerciais com seu país, em troca de vinte navios e suas tripulações, com o objetivo de defender as costas do país contra ataques de pirataria (muçulmana), lançando as bases da Marinha Portuguesa e para o estabelecimento de uma comunidade mercante genovesa em Portugal . Obrigados a reduzir suas atividades no Mar Negro, os mercadores da República de Génova tinham-se voltado para o comércio norte Africano de trigo, azeite (também fonte de energia) e ouro - navegando até aos portos de Bruges (Flandres) e Inglaterra. Genoveses e florentinos estabeleceram-se então em Portugal, que lucrou com a iniciativa e experiência financeira destes rivais da República de Veneza.

Na segunda metade do século XIV, surtos de peste bubónica levaram a um grave despovoamento: a economia era extremamente localizada em poucas cidades e a migração do campo levou ao abandono da agricultura e ao aumento do desemprego nas povoações. Só o mar oferecia alternativas, com a maioria da população fixada nas zonas costeiras de pesca e comércio.

Entre 1325 e 1357 D. Afonso IV de Portugal concedeu o financiamento público para levantar uma frota comercial e ordenou as primeiras explorações marítimas, com apoio de genoveses, sob o comando de Manuel Pessanha. Em 1341 as ilhas Canárias, já conhecidas dos genoveses, foram oficialmente descobertas sob o patrocínio do rei Português . A sua exploração foi concedida em 1338 a mercadores estrangeiros, mas em 1344 Castela disputou-as, concedendo-as ao castelhano D. Luís de la Cerda. No ano seguinte, Afonso IV enviou uma carta ao Papa Clemente VI referindo-se às viagens dos portugueses às Canárias e protestando contra essa concessão. Nas reivindicações de posse, sucessivamente renovadas pelos dois povos, prevaleceu, no final, a vontade do rei de Castela sobre estas ilhas.

Em 1353 foi assinado um tratado comercial com a Inglaterra para que os pescadores portugueses pudessem pescar nas costas inglesas, abrindo assim caminho para o futuro Tratado de Windsor em 1386. Em 1380 foi criada a Companhia das Naus, uma bolsa de seguros marítimos e, em 1387 há notícia do estabelecimento de mercadores do Algarve em Bruges. Em 1395, D. João I emitiu uma lei para regular o comércio dos mercadores estrangeiros.

Há unanimidade dos historiadores em considerar a conquista de Ceuta como o início da expansão portuguesa, tipicamente referida como os Descobrimentos. Foi uma praça conquistada com relativa facilidade, por uma expedição organizada por D. João I, em 1415. A aventura ultramarina ganharia grande impulso através da acção do Infante D. Henrique, reconhecido internacionalmente como o seu grande impulsionador, e continuada pelo seu sobrinho e protegido Infante D. Fernando, duque de Beja e Viseu.

Motivações

Representação do Preste João no trono, mapa da África oriental no Queen Mary's Atlas, Diogo Homem, 1558, Museu Britânico

Até ao século XIX, considerava-se como única a que a motivação reino português para as conquistas africanas em Marrocos tinha sido de ordem religiosa e espírito de cruzada. O cronista Gomes Eanes de Zurara refere-se nesse sentido que os Infantes tinham as suas razões, os letrados as suas, mas a decisão cabia ao rei D. João I. Diz assim: “Eu não o teria por vitória, nem o faria em boa verdade, ainda que soubesse cobrar todo o mundo por meu, se não sentisse que em alguma maneira era serviço de Deus” . O motivo religioso, sobrepondo-se a todos os outros, foi como tal apontado, entre outros, por João de Barros, Luís de Camões, Gil Vicente.

Sem falarmos no papel dos reis portugueses na Reconquista da Península Ibérica e independentemente de nos apercebermos todo um pensamento de acordo com uma época que mantinha os valores da Cavalaria medieval, que já vinha detrás, a provar está o consentimento e bênção do papado dado ao pedido D. Dinis para combater os corsários mouros e ao de D. Duarte, em 1436, nas intervenções de ocupação de território sarraceno, infiel e ímpio, junto do Norte de África. Daí as sucessivas bulas da Cruzada que se lhe seguiram e foram dirigidas ao Reino de Portugal e à portuguesa templária Ordem de Cristo . 

Isto para consentir e agradecer toda a intervenção nesse sentido da conquista de os territórios "nullius diocesis" (sem diocese apostólica) para aumentar o número de cristãos e o seu prestígio. Entre outras, temos a bula Apostolice Sedis emitida em 23 de Maio de 1320 pelo Papa João XXII; a Etsis suscepti, em 1442; a "Dum Diversas, em 18 de Junho de 1452; logo depois a Romanus Pontifex em 8 de Janeiro de 1455 1454, enviadas pelo Papa Nicolau V; e mais tarde surge a "bula Inter Coetera", em 4 de Maio de 1493, pelo Papa Calisto III.

As importantes rotas comerciais da seda e das especiarias, bloqueadas pelos Otomanos em 1453 com a queda de Constantinopla motivaram a procura de um caminho marítimo pelo Atlântico, contornando a África

Mas havia também outras razões para a conquista de Ceuta, mais de um século depois resumidas pelo carmelita Frei Amador Arrais, ligando-as à acção de D. Afonso IV na Batalha do Salado - “El-Rei Dom João o primeiro, começou a conquista de África, tomãdo Septa, Baluarte da Cristandade: Chave de toda Hespanha, Porta do comércio do poente para levante."


Os muçulmanos dominavam o estreito de Gibraltar e eram poderosos em Granada. Pela sua posição geográfica, Ceuta era uma base naval que podia servir de apoio à navegação entre a península itálica e Portugal, permitindo também reprimir ou tolher a pirataria dos mourosnas costas do Atlântico.

No século XX, houve historiadores que julgaram o passado com as preocupações do presente, considerando a primazia do interesse económico: procurar acesso directo a fontes de fornecimento de trigo, de ouro ou de escravos no norte de África. Mas houve também historiadores, como David Lopes, rebatendo essa tese: "Ainda que Ceuta tivesse importância como centro de comércio, a sua conquista por cristãos desviaria dela o tráfico muçulmano"  ,

As conquistas de Marrocos, porém, sob o impulso do Infante D. Henrique, vieram a dar lugar aos descobrimentos. Segundo Gomes Eanes de Zurara, na Crónica do descobrimento e conquista da Guiné (Capítulo VII), as expedições organizadas pelo Infante tinham cinco motivações:

(1ª) conhecer a terra além das Canárias e do cabo Bojador;
(2ª) trazer ao reino mercadorias;
(3ª) saber até onde chegava o poder dos muçulmanos;
(4ª) encontrar aliados que o pudessem ajudar numa guerra que durava há trinta e um anos;
(5ª) e trazer para a fé de Cristo todas as almas que se quisessem salvar.

Se, com o Infante, ao avançar pela costa de África na direcção do sul, parece haver sobretudo a intenção de envolver pela retaguarda o grande poderio islâmico, adversário da Cristandade (uma estratégia militar e diplomática tributária do espírito das Cruzadas), a crescente intervenção dos "cavaleiros-mercadores" (Magalhães Godinho) nos reinados de D. Afonso V e D. João II, acabará por levar a expansão portuguesa até ao Oriente em busca das especiarias. Em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos Otomanos, as trocas comerciais no Mediterrâneo de Veneza e de Génova ficaram muito reduzidas. O proveito de uma rota comercial alternativa mostrava-se recompensador. Portugal iria ligar directamente as regiões produtoras das especiarias aos seus mercados na Europa. Quando se firma o projecto da descoberta do caminho marítimo para a Índia, a expansão portuguesa sem esquecer a vertente religiosa está também já dominada pelo interesse comercial.
Primeiras expedições no Atlântico

O Infante D. Henrique, o Navegador, personifica a gesta dos descobrimentos

A conquista de Ceuta em 1415 é geralmente referida como o início dos "descobrimentos Portugueses". Nela participaram os infantes D. Duarte, D. Pedro e o Infante D. Henrique que a partir de então dirige as primeiras expedições no Atlântico, como investimento do Reino de Portugal através da templária Ordem de Cristo e do seu próprio património pessoal.

As primeiras navegações estão associadas à sua figura a partir da base que, saindo do porto de Castro Marim que tinha sido a primeira sede da referida ordem militar e da qual ele era o grão-mestre, estabeleceu em Lagos e na Sagres, onde foi acompanhado por um grupo de cartógrafos, astrónomos e pilotos.

Além dos interesses materiais, o príncipe ambicionava ao estabelecer uma aliança com o Preste João, um príncipe cristão que governava as terras da Etiópia. Graças a essa aliança, pensava-se recomeçar as Cruzadas, mas numa escala planetária, alcançar o Paraíso (o Éden) do qual esse rei africano era o guardião, e expulsar os muçulmanos da Terra Santa para alcançar a Idade do Ouro e Jerusalém Celeste. Após a conquista os infantes foram armados cavaleiros pelo rei.



Por trás deste movimento, como dirigente governativo, estava o seu irmão Infante D. Pedro, 1.° duque de Coimbra assim como um grupo vasto de religiosos cristão e judeus, mercadores e armadores profissionais, interessados e participantes nas navegações, responsáveis por uma série importante de iniciativas a que onavegador aderiu.


Entre eles o seu aventureiro sobrinho navegador, Infante D. Fernando, duque de Beja, pai de D. Manuel I, que deu toda a continuidade a esses intentos.

As rotas henriquinas (c.1430-1460): ventos (verde), correntes (azul) e rotas (vermelho). Quanto mais para Sul, maior a volta necessária para regressar

A ilha da Madeira

Em 1418, ainda no reinado de D. João I, e sob comando do Infante D. Henrique dá-se o redescobrimento da ilha de Porto Santo por João Gonçalves Zarco e mais tarde da ilha da Madeira por Tristão Vaz Teixeira. Trata-se de um redescobrimento pois já havia conhecimento da existência dessas ilhas no século XIV, segundo revela a cartografia da mesma época, principalmente em mapas italianos e catalães. Tratava-se de ilhas desabitadas que, pelo seu clima, ofereciam possibilidades de povoamento aos Portugueses e reuniam condições para a exploração agrícola.

Os arquipélagos da Madeira e das Canárias despertaram, desde cedo, o interesse tanto dos Portugueses como dos Castelhanos; por serem vizinhos da costa africana, representavam fortes potencialidades económicas e estratégicas. A disputa destes territórios deu origem ao primeiro conflito ibérico motivado por razões expansionistas que só terminou com a assinatura do Tratado das Alcáçovas-Toledo em 1479.

Os Açores

Em 1427, dão-se os primeiros contactos com o arquipélago dos Açores por Diogo de Silves. Ainda nesse ano é descoberto o grupo oriental dos Açores, São Miguel e Santa Maria. Segue-se o descobrimento do grupo central -Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico e Faial). Em 1452 o grupo ocidental (Flores e Corvo) é descoberto por Diogo de Teive.

A costa oeste de África

Mapa da costa oeste africana representando a feitoria da "A mina", séc. XVI

Em 1434 Gil Eanes contornou o Cabo Bojador, dissipando o terror que este promontório inspirava. No ano seguinte, navegando com Afonso Gonçalves Baldaia descobriram Angra de Ruivos e este último chegou ao Rio de Ouro, no Saara Ocidental. Entretanto, após a derrota portuguesa de Tânger em 1437, os portugueses adiaram o projecto de conquistar o Norte de África .

Já na regência de D. Afonso V, em 1441 Antão Gonçalves foi incumbido de descobrir o Rio do Ouro. Fez os primeiros cativos africanos: um homem de cor parda a que os portugueses chamavam de azenegues e uma moura negra. 

No mesmo ano, Nuno Tristão chegou ao Cabo Branco. Juntamente com Antão Gonçalves fizeram incursões ao referido Rio do Ouro, de onde foi obtido ouro em pó e alguns escravos, a primeira grande captura. A partir de então ficou generalizada a convicção de que essa área da costa africana poderia, independentemente de novos avanços, sustentar uma actividade comercial capaz de responder às necessidades de numerário que, em Portugal, como em toda a Europa, se fazia sentir. Em 1456, Diogo Gomes descobre Cabo Verde e segue-se o povoamento das ilhas ainda no século XV11 .

Em 1455 é emitida a bula Romanus Pontifex do Papa Nicolau V confirmando as explorações portuguesas e declarando que todas as terras e mares descobertos a sul do Bojador e do cabo são pertença dos reis de Portugal, que poderá cobrar impostos sobre a navegação e comércio. No ano seguinte chegava a Bristol o primeiro carregamento de açúcar provindo da ilha da Madeira.

Em 1460, Pêro de Sintra atinge a Serra Leoa. Nesse ano faleceu o Infante D. Henrique. Após a sua morte, a missão é atribuída temporariamente ao seu sobrinho, o Infante D. Fernando (filho de D.Duarte), já aqui referido.

Em 1469, Afonso V, Rei de Portugal dadas as poucas receitas da exploração, concedeu o monopólio do comércio no Golfo da Guiné ao mercador de Lisboa Fernão Gomes, contra uma renda anual de 200.000 réis . Segundo João de Barros, ficava aquele «honrado cidadão de Lisboa» com a obrigação de continuar as explorações, pois o exclusivo era garantido com «condição que em cada um destes xinco anos fosse obrigado a descobrir pela costa em diante cem léguas, de maneira que ao cabo do seu arrendamento desse quinhentas léguas descobertas» ». Este avanço, do qual não há grandes pormenores, teria começado a partir da Serra Leoa, onde haviam já chegado Pedro Sintra e Soeiro da Costa.

Com a colaboração de navegadores como João de Santarém, Pedro Escobar, Lopo Gonçalves, Fernão do Pó e Pedro de Sintra, Fernão Gomes fê-lo mesmo para além do contratado. Com o seu patrocínio, os portugueses chegaram ao Cabo de Santa Catarina, já no Hemisfério Sul. João de Santarém e Pêro Escobar exploraram a costa setentrional do Golfo da Guiné, atingindo a «minha de ouro» de Sama (actualmente Sama Bay), a costa da Mina, a de Benin, a do Calabar e a do Gabão e as ilhas de São Tomé e Príncipe e de Ano Bom . Quando as expedições chegaram a Elmina na Costa do Ouro, em 1471 , encontraram um florescente comércio de ouro.

Seguiram-se outros navegadores como Soeiro da Costa (que deu nome ao rio Soeiro), Fernão do Pó (que descobriu a ilha Formosa(em África), que ficou conhecida posteriormente pelo seu nome), João Vaz Corte-Real, que em 1472 descobriu a Terra Nova, e em 1473 Lopo Gonçalves (cujo nome se transmitiu ao Cabo Lopo Gonçalves, hoje conhecido por Cabo Lopez) ultrapassou o Equador.

Em 1474, D. Afonso V entregou ao seu filho, o príncipe D. João, futuro D. João II, com apenas dezanove anos, a organização das explorações por terras africanas. Mais tarde, em 1481, o rei confirmou a missão do príncipe em novo diploma: «…sabemos certo que ele dá, per si, e per seus oficiais, mui boa ordem à navegação destes trautos e os governa mui bem.».

Assim que lhe foi entregue a política de expansão ultramarina, D. João organizou a primeira viagem de Diogo Cão. Este fez o reconhecimento de toda a costa até à região do Padrão de Santo Agostinho. Em 1485, Diogo Cão levou a cabo uma segunda viagem até à Serra Parda.

Há notícias de carregamentos de açúcar da Madeira serem entregues em Rouen (1473) e Dieppe (1479).

Em 1479, buscando proteger o investimento resultante das descobertas, Portugal negociou com Castela o Tratado das Alcáçovas-Toledo, estabelecendo a paz e concertando a política externa Atlântica dos dois reinos rivais: Portugal obtinha o reconhecimento do seu domínio sobre a ilha da Madeira, o Arquipélago dos Açores, o de Cabo Verde e a costa da Guiné, enquanto que Castela recebia as ilhas Canárias, renunciando a navegar ao Sul do cabo Bojador, ou seja, do Paralelo 27 no qual se encontravam. 

O tratado dividia as terras descobertas e a descobrir por um paralelo na altura das Canárias, dividindo o mundo em dois hemisférios: a norte, para a Coroa de Castela; e a sul, para a Coroa de Portugal. Preservavam-se, desse modo, os interesses de ambas as Coroas, definindo-se, a partir de então, os dois ciclos da expansão: o chamado ciclo oriental, pelo qual a Coroa portuguesa garantia o seu progresso para o sul e o Oriente, contornando a costa africana (o chamado "périplo africano"); e o que se denominou posteriormente de ciclo ocidental, pelo qual Castela se aventurou no oceano Atlântico, para oeste até ao Novo Mundo.

Em 1482 dá-se a construção da Fortaleza de São Jorge da Mina e, no ano seguinte, Diogo Cão chega ao rio Zaire. A Fortaleza de São Jorge da Mina e a cidade foram construídos em 1482 em redor da indústria do ouro . Com os lucros deste comércio, Fernão Gomes auxiliou o monarca na conquista de Arzila, Alcácer Ceguer e Tânger. Além da aquisição do ouro e malagueta, o comércio escravagistaoferecia boas perspectivas de lucro .

A ligação do Atlântico com o Índico

Viagem de Bartolomeu Dias (1487–88)

Em 1487, D. João II envia Afonso de Paiva e Pêro da Covilhã em busca do Preste João e de informações sobre a navegação e comércio no Oceano Índico. Nesse mesmo ano,Bartolomeu Dias, comandando uma expedição com três Caravelas, atinge o Cabo da Boa Esperança. Estabelecia-se assim a ligação náutica entre o Atlântico e o Oceano Índico.

O projecto para o caminho marítimo para a Índia foi delineado por D. João II como medida de redução dos custos nas trocas comerciais com a Ásia e tentativa de monopolizar o comércio das especiarias. A juntar à cada vez mais sólida presença marítima portuguesa, D. João almejava o domínio das rotas comerciais e expansão do reino de Portugal que já se transformava em Império Porém, o empreendimento não seria realizado durante o seu reinado. Seria o seu sucessor, D. Manuel I que iria designar Vasco da Gama para esta expedição, embora mantendo o plano original.

Porém, este empreendimento não era bem visto pelas altas classes. Nas Cortes de Montemor-o-Novo de 1495 era bem patente a opinião contrária quanto à viagem que D. João II tão esforçadamente havia preparado.

Contentavam-se com o comércio da Guiné e do Norte de África e temia-se pela manutenção dos eventuais territórios além-mar, pelo custo implicado na expedição e manutenção das rotas marítimas que daí adviessem.

Esta posição é personificada na personagem do Velho do Restelo que aparece, n'Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões, a opor-se ao embarque da armada.

Em 1492, Abraão Zacuto é expulso da Espanha por ser judeu, vindo viver para Portugal, trazendo consigo as tábuas astronómicas que ajudariam os navegadores portugueses no mar.

Tratado de Tordesilhas e o domínio do Atlântico Sul

Meridiano de Tordesilhas (rosa) de 1494 e o seu antimeridiano (verde) estabelecido pelo Tratado de Saragoça em 1529.

Face à chegada de Cristóvão Colombo à América no mesmo ano 1492, segue-se a promulgação de três bulas papais - as Bulas Alexandrinas - que concediam a Espanha o domínio dessas terras. Cientes da descoberta de Colombo, os cosmógrafos portugueses argumentaram que a descoberta se encontrava em terras portuguesas.

D. João II consegue uma renegociação, mas só entre os dois Estados, sem a intervenção do Papa, propondo estabelecer um paralelo das Ilhas Canárias. Os castelhanos recusaram a proposta inicial, mas prestaram-se a discutir o caso. Reuniram-se então os diplomatas em Tordesillas.

Como resultado das negociações, foi assinado em 7 de Junho de 1494 o Tratado de Tordesilhas entre Portugal e Castela. Este tratado estabelecia a divisão do Mundo em duas áreas de exploração: a portuguesa e a castelhana, cabendo a Portugal as terras "descobertas e por descobrir" situadas antes da linha imaginária que demarcava 370 léguas (1.770 km) a oeste das ilhas de Cabo Verde, e à Espanha as terras que ficassem além dessa linha .


Em princípio, o tratado resolvia os conflitos que seguiram à descoberta do Novo Mundo por Cristóvão Colombo e garantia a Portugal o domínio das águas do Atlântico Sul, essencial para a manobra náutica então conhecida como volta do mar, empregada para evitar as correntes marítimas que empurravam para norte as embarcações que navegassem junto à costa sudoeste africana, permitindo a ultrapassagem do cabo da Boa Esperança.

A chegada à Índia
Viagem de Vasco da Gama (a preto) e as viagens anteriores de Pêro da Covilhã(laranja) e Afonso de Paiva (azul), com o caminho percorrido antes de se separarem a verde.

Nos anos que se seguiram à assinatura do Tratado de Tordesilhas (1494) Portugal prosseguiu no seu projecto de alcançar a Índia, o que foi finalmente alcançado pela frota de Vasco da Gama, na sua primeira viagem de 1497-1499.

Mantendo o plano de D. João II, o rei D. Manuel I mandou aparelhar as naus e escolheu Vasco da Gama, cavaleiro da sua casa, para capitão desta armada. Segundo o plano original, D. João II teria designado seu pai, Estêvão da Gama, para chefiar a armada; mas a esta altura já ambos tinham falecido.

A 8 de Junho de 1497 iniciou-se a expedição semi-planetária que terminaria dois anos depois com a entrada da nau Bérrio pelo rio Tejo adentro, trazendo a boa-nova. Neste dia parte do Restelo a armada chefiada por Vasco da Gama. Tratava-se de uma expedição comportando três embarcações. É a partir da viagem de Vasco da Gama que se introduzem as naus. A 20 de Maio de 1498 Vasco da Gama chega a Calecute. Estabelecia-se assim o caminho marítimo para a Índia.

Chegada ao Brasil

Rota seguida por Pedro Álvares Cabral em 1500 (em vermelho) e a rota de retorno (em azul).

Em 1499, após o retorno de Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral foi nomeado capitão-mor da armada que se dirigiria à Índia. A sua missão era a de estabelecer relações diplomáticas e comerciais com o Samorim, promovendo a imagem de Portugal e instalando um entreposto comercial ou feitoria, retornando com o máximo de mercadorias.

A sua foi a mais bem equipada armada do século XV, integrada por dez naus e três caravelas, transportando de 1.200 a 1.500 homens, entre funcionários, soldados e religiosos. Era integrada por navegadores experientes, como Bartolomeu Dias e Nicolau Coelho, tendo partido de Lisboa a 9 de março de 1500, após missa solene na ermida do Restelo, à qual compareceu o Rei e toda a Corte.


Mas Pedro Álvares Cabral, por alturas de Cabo Verde, desvia-se da rota. Tendo-se afastado da costa africana, a 22 de abril de 1500, após quarenta e três dias de viagem, avistou o Monte Pascoal no litoral sul da Bahia. No dia seguinte, houve o contato inicial com os indígenas. A 24 de abril, seguiu ao longo do litoral para o norte em busca de abrigo, fundeando na atual baía de Santa Cruz Cabrália, nos arredores de Porto Seguro, onde permaneceu até 2 de maio.

Carta a El Rei D. Manuel escrita por Pero Vaz de Caminha descrevendo as terras brasileiras achadas na expedição de Pedro Álvares Cabral.

Cabral tomou posse, em nome da Coroa portuguesa, da nova terra, a qual denominou de "Ilha de Vera Cruz" (mais tarde Terra de Santa Cruz e finalmente Brasil - face à abundante existência de madeira pau-brasil), e enviou uma das embarcações menores com a notícia, inclusive a Carta de Pero Vaz de Caminha, de volta ao reino. Retomou então a rota de Vasco da Gama rumo às Índias.

Ao cruzar o cabo da Boa Esperança, perderam-se quatro dos navios, entre os quais o de Bartolomeu Dias, navegador que o descobrira em 1488. Diogo Dias contava entre os navegadores experientes da frota de Pedro Álvares Cabral na segunda armada à Índia. É citado na Carta do Achamento do Brasil de Caminha como «homem gracioso e de prazer». A 10 de Agosto de 1500, após ter dobrado o cabo da Boa Esperança, separou-se do resto da expedição devido aos ventos, e descobriu uma ilha a que deu o nome de São Lourenço, mais tarde designada Madagáscar. Sua embarcação se perdeu durante a tormenta, e acabou sendo o primeiro capitão português a viajar pelo mar Vermelho. Incapaz de prosseguir rumo à Índia, retornou a Portugal, onde chegou com apenas sete homens.

A armada de Pedro Álvares Cabral chega a Calecute em 1501, onde ocorrem confrontos com o Samorim, com o qual acaba por romper relações. Assim, dirige-se para Sul e estabelece uma feitoria em Cochim.

Explorações secretas e Duarte Pacheco Pereira

A expedição de Pedro Álvares Cabral viria a abrir uma polémica historiográfica acerca do "acaso" ou da "intencionalidade" da descoberta. Note-se que uma das testemunhas que assinaram o Tratado de Tordesilhas por Portugal foi Duarte Pacheco Pereira, um dos nomes ligados a um suposto descobrimento do Brasil pré-Cabralino. Embora não existam evidências concretas a sustentar qualquer das hipóteses, certo é que por esta data já se tinha, na Europa, o conhecimento da existência de terras a leste da linha doTratado de Tordesilhas.

A chegada às Molucas, China e ao Japão

Em 1510 Afonso de Albuquerque conquistou Goa, na Índia e pouco depois, em 1511,Malaca, na Malásia. Simultaneamente investiu esforços diplomáticos com os mercadores do sudeste asiático, como os chineses, na esperança de que estes fizessem eco das boas relações com os portugueses. Conhecendo as ambições siamesas sobre Malaca, imediatamente enviou Duarte Fernandes em missão diplomática ao Reino do Sião (actualTailândia), onde foi o primeiro europeu a chegar viajando num junco chinês que retornava à China, estabelecendo relações amigáveis entre os reinos de Portugal e do Sião .


Carraca Portuguesa em Nagasaki, cidade fundada pelos portugueses no Japão em 1570. Painel japonês do período Nanban, século XVII

Ainda em Novembro desse ano, ao tomar conhecimento da localização secreta das chamadas "ilhas das especiarias", ordenou a partida dos primeiros navios portugueses para o sudeste asiático, comandado pelo seu homens de confiança António de Abreu e por Francisco Serrão, guiados por pilotos malaios. Estes são os primeiros europeus a chegar às Ilhas Banda nas Molucas.

A nau de Serrão encalhou próximo a Ceram e o sultão de Ternate, Abu Lais, entrevendo uma oportunidade de aliar-se com uma poderosa nação estrangeira, trouxe os tripulantes para Ternate em 1512. A partir de então os portugueses foram autorizados a erguer uma fortificação-feitoria na ilha, na passagem para o oceano Pacífico: o Forte de São João Baptista de Ternate.

Em 1513, partindo de Malaca (actual Malásia) Jorge Álvares atinge o Sul da China. A esta visita seguiu-se o estabelecimento de algumas feitorias portuguesas na província de Cantão, onde mais tarde se viria a estabelecer o entreposto de Macau. De acordo com os registos disponíveis, foi o primeiro europeu a alcançar e visitar o território que actualmente é Hong Kong.


As novas rotas comerciais estabelecidas pelos os descobrimentos, ligando Lisboa a Nagasaki (1580-1640) e a rota rival espanhola, o galeão de Manila, iniciada em 1565 (branco)

Em 1543, Francisco Zeimoto, António Mota e António Peixoto são os primeiros portugueses a atingir o Japão. Terão aportado ao Japão a 23 de Setembro, tendo sido este primeiro contacto de europeus com o Japão, relatado pelo cronista Fernão Mendes Pinto. Segundo este, a ilha de Tanegashima teria sido o primeiro lugar visitado pelos portugueses, que espantaram os autóctones não só com o relato de terras e costumes que tinham visto como com a novidade das armas de fogo, visto que o conhecimento da pirobalística ainda não tinha chegado ao Japão. A chegada dos portugueses deu origem ao período de comércio Nanban (sendo Naban-jin, a denominação que atribuiam aos bárbaros do sul), durante o qual uma intensa interação com os poderes europeus ocorreu tanto a nível econômico como religioso.

Descobrimentos e explorações portuguesas

Descobrimentos, viagens e explorações portuguesas: datas e primeiros locais de chegada de 1415-1543, principais rotas no Oceano Índico (azul), territórios portugueses no reinado de D. João III (verde)

Estados atuais


Os descobrimentos Portugueses marcaram a primeira presença dos europeus, chegando pelos Oceanos, entre os primórdios do Século XV e a primeira metade do Século XVI, em muitos dos actuais países.

Os portugueses foram os pioneiros nos países:

América do Norte - Canadá (Terra Nova e Labrador)

América do Sul - Brasil

Oceania - Austrália, Papua-Nova Guiné, Vanuatu

África (litoral atlântico e ilhas) - Marrocos (e Saara Ocidental), Mauritânia, Senegal, Gâmbia, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné,Serra Leoa, Libéria, Costa do Marfim, Gana, Benim, Nigéria, Camarões,

Guiné Equatorial, Gabão, São Tomé e Príncipe, Angola,Namíbia, África do Sul.

África (Litoral índico e ilhas) - Moçambique, Madagascar, Tanzânia, Maurícia, Comores, Quênia, Somália

Ásia - Iêmem (Kamaran, Socotra), Omã, Bahrein, Irão (Ormuz), Índia (Goa, Damão e Diu, Dadrá e Nagar-Aveli, Calicute, etc.), Sri-Lanka (antigo Ceilão), Maldivas, Tailândia (Sião), Malásia, Indonésia, Timor-Leste, Ilha Formosa (Taiwan), China, Japão.

Ilhas diversas pertencentes a países europeus - Canárias (ESP); Açores e Madeira (POR); Ascensão, Santa Helena (território) eTristão da Cunha (RU)

As Filipinas, as possessões Marianas Setentrionais (EUA) e a Polinésia Francesa (FRA) foram descobertas por um português a serviço da Espanha, Fernão de Magalhães, durante a sua viagem de circum-navegação.

A ciência náutica portuguesa


As sucessivas navegações e a experiência acumulada dos pilotos levaram a uma evolução bastante rápida da ciência náutica portuguesa, tendo a investigação criado uma elite de astrónomos, navegadores, matemáticos e cartógrafos, entre os quais se destacaram Pedro Nunes com os estudos sobre a forma de determinar as latitudes por meio dos astros e D. João de Castro. 

Navios

Até ao século XV os portugueses praticavam a navegação de cabotagem utilizando a barca e o barinel, embarcações pequenas e frágeis de um mastro com vela quadrangular fixa, usadas nas primeiras viagens às ilhas Canárias, Madeira e Açores, e no litoral africano até Arguim, na actual Mauritânia. Mas que não conseguiam dar resposta às dificuldades no avanço para Sul, como os baixios, os ventos fortes e as correntes marítimas desfavoráveis, sendo substituídas pelas caravelas.

A caravela foi o navio que marcou os descobrimentos portugueses, resultando do aperfeicoamento de embarcações já usadas na faina da pesca. Era e ágil e de navegação mais fácil, com uma tonelagem entre 50 a 160 toneladas e 1 a 3 mastros com velas latinas triangulares que permitiam bolinar. A pouca capacidade de carga e tripulação eram os seus principais inconvenientes, mas que não obstaram ao seu sucesso. Entre as caravelas famosas estão a Bérrio e a Caravela Anunciação.

Armada portuguesa de 1507A

Com a passagem das navegações costeiras às oceânicas também as naus se desenvolveram de forma assinalável em Portugal. "Nau" era o sinónimo arcaico de navio de grande porte, destinado essencialmente a transportar mercadorias.

Devido à pirataria que assolava a costa, passaram a ser utilizadas na marinha de guerra.

Foram introduzidas as bocas-de-fogo, que levaram à classificação das naus segundo o poder de artilharia. À medida que se foi desenvolvendo o comércio marítimo, foram sendo modificadas as suas características. A capacidade aumentou das duzentas toneladas no século XV até às quinhentas.

As naus eram imponentes e tinham, em geral, duas cobertas, castelos de proa e de popa, dois a quatro mastros e velas sobrepostas.

Na carreira da Índia no século XVI foram também usadas as carracas, naus de velas redondas e borda alta com três mastros que atingiam 2000 toneladas.

Balestilha
A balestilha é um instrumento complementar da esfera armilar, formado por "virote" e "soalha", utilizado para medir a altura em graus que une o horizonte ao astro e dessa forma determinar os azimutes, antes e depois de sua passagem meridiana.

Foi bastante utilizado pelos Portugueses na Época dos Descobrimentos. A versão do instrumento na imagem é própria para ser usada em alto mar, através de observações da altura do Sol na identificação da latitude do navio. 

A origem do seu nome remonta ou de “balhestra”, que significa besta, a arma medieval, ou, mais provavelmente, do árabe “balisti”, que significa altura , nesse caso a vertical do astro.

Terá sido o primeiro instrumento desta época para trazer o astro ao horizonte do mar, mesmo tendo aparecido depois do astrolábio e do quadrante.2 Ha sido dos instrumentos mais utilizados durante os descobrimentos; crê-se que tenha sido inventado pelos portugueses (mais foram => Jacob ben Machir ibn Tibbon/Levi Ben Gerson).

A balestilha também é referida como "Báculo de Jacob"

Construção

É basicamente constituída por uma régua de madeira ("virote") na qual se coloca a "soalha" que corre na perpendicular em relação ao virote. A leitura do ponto onde se encontrava o astro era feita no ponto da escala gravada no virote onde a soalha se encontrava.

Utilização

Para medir a altura de uma estrela, que não o Sol, coloca-se o olho na extremidade do virote e desloca-se a soalha de modo que a aresta superior coincida com a estrela e a inferior com o horizonte. 

A altura da estrela é dada pela leitura do número que se encontra inscrito no ponto do virote onde fica a soalha.

Para saber a altura do sol, a acção não decorria virada de frente para o astro, mas sim de costas para este, para que a vista não fosse danificada pela intensidade da luz do sol o que limitava o seu uso em terra ou quando o sol encontrava-se perto do horizonte.

Astrolábio

O astrolábio é um instrumento naval antigo, usado para medir a altura dos astros acima do horizonte.

Convenciona-se dizer que o surgimento do astrolábio é o resultado prático de várias teorias matemáticas,1 desenvolvidas por célebres estudiosos antigos: Euclides, Ptolomeu, Hiparco de Nicéia e Hipátia de Alexandria.

Era usado para determinar a posição dos astros no céu e foi por muito tempo utilizado como instrumento para a navegação marítima com base na determinação da posição das estrelas no céu. Mais tarde foi simplificado e substituído pelo sextante (instrumento astronômico usado para determinar a latitude).

Astrolábio persa sec. XVIII
Também era utilizado para resolver problemas geométricos, como calcular a altura de um edifício ou a profundidade de um poço. Era formado por um disco de latão graduado na sua borda, num anel de suspensão e numa mediclina (espécie de ponteiro). O astrolábio náutico era uma versão simplificada do tradicional e tinha a possibilidade apenas de medir a altura dos astros para ajudar na localização em alto mar.

Não existem vantagens nem desvantagens entre os instrumentos antigos de navegação; de certa forma são instrumentos perfeitos que atendem suas funções para onde foram projetados, nesse sentido a função do astrolábio é uma e o quadrante é outra. A única diferença (interpretada como vantagem) é o fato de ser um instrumento terrestre, portanto fixo ao solo, para se usar numa ilha ou num continente e mirar uma determinada estrela próxima ao pólo Estrela Polar e o outro um instrumento de bordo, portátil, mais pesado e proprio para medir a passagem meridiana com a sombra do sol. 

Sob a precisão, ambos funcionavam bem tanto no hemisfério sul como no hemisfério norte mas principalmente o astrolábio pelo seu peso era capaz de permanecer na vertical apesar do balanço do navio portanto, indicado para funcionar embarcado.

O desenvolvimento do astrolábio se dá com o passar dos séculos. Os indivíduos mais influentes da teoria na qual o instrumento se baseia foram Hiparco de Niceia, que definiu a teoria das projeções e a aplicou a problemas astronômicos, e Cláudio Ptolomeu que, em seu trabalho Planisferium escreve passagens que sugerem que ele possuía um invento semelhante ao astrolábio.

Teão de Alexandria em cerca de 390 DC escreveu um tratado dedicado ao Astrolábio, o qual foi a base de muitos escritos sobre o assunto na idade média. Sua filha, (Hipátia de Alexandria), chegou a criar um astrolábio.3 Um de seus discipulos, Synesius de Cirene, também possuía um invento de características semelhantes. O astrolábio moderno de metal foi inventado por Abraão Zacuto em Lisboa, a partir de versões árabes pouco precisas.

O disco inicial foi parcialmente aberto para diminuir a resistência ao vento. O manejo do astrolábio exigia a participação de duas pessoas; consistia em grande círculo, por cujo interior corria uma régua; um homem suspendia o astrolábio na altura dos olhos, alinhando a régua com o sol enquanto outro lia os graus marcados no círculo.

Navegação astronómica

No século XIII era já conhecida a navegação astronómica através da posição solar. Para a navegação astronómica os portugueses, como outros europeus, recorriam a instrumentos de navegação árabes, como o astrolábio e o quadrante, que aligeiraram e simplificaram. Inventaram outros, como a balestilha, para obter no mar a altura do sol e outros astros, como o Cruzeiro do Sul descoberto após a chegada ao hemisfério Sul por João de Santarém e Pêro Escobar em 1471, que iniciaram a navegação guiada por esta constelação.

Tábua astronómica doAlmanach Perpetuum de Abraão Zacuto, 1496.

Mas os resultados variavam conforme longo do ano, o que obrigava a correcções. Para isso os portugueses utilizaram tabelas de inclinação do Sol, as Tábuas astronómicas, preciosos instrumentos de navegação em alto-mar, que conheceram uma notável difusão no século XV.

Quando se introduziram na náutica as observações astronómicas que a revolucionaram, em particular a observação de altura meridiana do Sol para com o conhecimento da declinação solar, se poder calcular a latitude do lugar, recorreu-se às tábuas Almanach Perpetuum, do astrónomo Abraão Zacuto, publicadas em Leiria em 1496, que foram utilizadas, juntamente com o seu astrolábio melhorado, por Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral.

Técnicas de navegação

Mapa mostrando a localização das principais correntes e ventos oceânicos giratórios

Além da exploração do litoral foram feitas também viagens para o mar largo em busca de informações meteorológicas e oceanográficas (foi nestes trajectos que se descobriram os arquipélagos da Madeira e dos Açores, o Mar dos Sargaços).

O conhecimento do regime de ventos e correntes do Atlântico e a determinação da latitude por observações astronómicas a bordo, permitiu a descoberta da melhor rota oceânica de regresso de África: cruzando o Atlântico Central até à latitude dos Açores, aproveitando os ventos e correntes permanentes favoráveis, que giram no sentido dos ponteiros do relógio no hemisfério norte devido à circulação atmosférica e ao efeito de Coriolis, facilitando o rumo directo para Lisboa e possibilitando assim que os portugueses se aventurassem cada vez para mais longe da costa, manobra que ficou conhecida como "volta da Mina", ou "Volta do mar".

Cartografia

A mais antiga Rosa dos ventos com Flor-de-lis da carta de marear de Pedro Reinel de 1504

Pensa-se que Jehuda Cresques, filho do cartógrafo catalão Abraão Cresques terá sido um dos notáveis cartógrafos ao serviço do Infante D. Henrique.

Contudo a mais antiga carta de marear portuguesa assinada é um portulano de Pedro Reinel de 1485 representando a Europa Ocidental e parte de África, que reflecte as explorações efectuadas pelo navegador Diogo Cão ao longo da costa africana.

Reinel foi também autor da primeira carta náutica conhecida com uma indicação de latitudes em 1504 bem como da primeira representação da rosa-dos-ventos.

Com o seu filho, Jorge Reinel e o cartógrafo Lopo Homem, participou na elaboração do atlas conhecido por Atlas de Lopo Homem-Reinés ou Atlas de Miller'', de 1519. Foram considerados dos melhores cartógrafos do seu tempo, a ponto do imperador Carlos V os desejar a trabalhar para si. Em 1517 o rei D. Manuel I de Portugal passou a Lopo Homem, cartógrafo e cosmógrafo português, um alvará que lhe dava o privilégio de fazer e emendar todas as agulhas (bússolas) dos navios.

Na terceira fase da antiga cartografia náutica portuguesa, caracterizada pelo abandono da influência de Ptolemeu na representação do Oriente e por uma melhor precisão na representação das terras e continentes, destaca-se Fernão Vaz Dourado (Goa ~1520 — ~ 1580), cuja obra apresenta extraordinária qualidade e beleza, conferindo-lhe a reputação de um dos melhores cartógrafos de seu tempo. Muitas de suas cartas são de grande escala.