Em 11 de Janeiro de 1890 o governo inglês envia um célebre "memorandum" ao governo português que não só faz deitar por terra o nosso sonho de constituir a África Meridional Portuguesa (assinalada no "Mapa Cor de Rosa", de 1886) como, pela demonstração de incapacidade política de resistir às pretensões da Inglaterra, anuncia o princípio de uma série de acontecimentos que vão ser nefastos para a continuidade do regime monárquico constitucional.
Com efeito o Governo de S.M. exige nesse memorando "que se enviem instruções telegráficas imediatas para que todas e quaisquer forças militares portuguesas actualmente no Chire e nos países dos Mokololos e Machonos se retirem" e ameaça ainda que, se uma resposta satisfatória não for dada pelo governo português nessa mesma tarde, a delegação inglesa em Lisboa, abandonará o nosso País.
O rei D. Carlos reúne à pressa o Conselho de Estado e responde de imediato: "Na presença de uma ruptura iminente de relações com a Grã-Bretanha e de todas as consequências que dela poderiam talvez derivar, o Governo de S.M. resolveu ceder às exigências formuladas (...) e vai expedir para o Governo Geral de Moçambique as ordens exigidas pela Grã-Bretanha".
Houve manifestação públicas de grande indignação e Basílio Teles escreveu mesmo que "este dia valeu séculos e anuncia um futuro perturbante", atribuindo a humilhação "à incapacidade e cobardia dos governos do regime".
Sucedem-se em Lisboa as demonstrações de revolta pela afronta inglesa e os jornais invectivam o governo do partido Progressista que é obrigado a demitir-se, sendo de imediato substituído por um governo do partido Regenerador. Lança-se uma subscrição nacional para a compra de navios de guerra (que só chegou para a compra do "Adamastor") lança-se o boicote aos produtos ingleses e o espírito do momento é passado para a letra e música da "Portuguesa" que virá a ser o futuro hino nacional.
O Mapa Cor de Rosa Após a Conferência de Berlim (1884-1885), Portugal apressou o processo de ocupação da zona central de África, entre Angola e Moçambique, devido à concorrência das potências europeias para a partilha da África, reivindicando sobre estes territórios direitos históricos. Procedeu-se, imediatamente, a uma intensificação das explorações portuguesas na zona.
O reconhecimento oficial do direito português à ocupação foi estabelecido nas convenções luso-francesa e luso-alemã, em 1886. Na convenção luso-alemã, foi elaborado um anexo cartográfico com a zona da esfera de influência portuguesa entre a costa angolana e a costa moçambicana assinalada a cor-de-rosa, daí surgindo a designação de Mapa Cor-de-Rosa.
O plano português de instauração de um "novo Brasil", ainda que aceite pela Alemanha e pela França, foi imediatamente contestado por Inglaterra, baseando-se no facto de haver ficado acordado na Convenção de Berlim que os direitos históricos estariam radicados na ocupação efectiva do território.
Devido à contestação inglesa quanto aos direitos portugueses sobre aquela região interior, gerou-se um conflito entre as duas nações que culminou no Ultimato de 1890.
A Portuguesa - Hino Nacional Português
Alfredo Keil, pintor e compositor português, natural de Lisboa, filho de pai alemão e mãe portuguesa. Foi ainda poeta, arqueólogo e coleccionador de arte. Estudou em Munique e Nuremberga, onde recebeu aprendeu desenho com o pintor Von Kremling e música comKaulbach. Em 1870, já regressado a Lisboa, tornou-se discípulo de Miguel Ângelo Lupi.
Progressivamente, foi afirmando a sua carreira, assumindo-se como figura marginal, tendencialmente ligado a valores intimistas e à expressão tardo-romântica. Dedicou-se a pintar cenas urbanas de Lisboa, com apurada minúcia de miniaturista, na tradição da pintura alemã. Para além das suas paisagens melancólicas, dedicou-se também à pintura de interiores e cenas do quotidiano.
Foi um caso único na sua geração de artistas, mantendo uma tendência romântica em plena época de naturalismo. Deixou uma vasta obra que ascende a mais de 2000 quadros, alguns dos quais premiados (Sesta, Meditação e Melancolia, entre outros). Encontra-se representado no Museu de Arte Contemporânea - Museu do Chiado.
Para além de pintor, assumiu-se como compositor, estreando-se em 1883, com a ópera cómica Susana. Mais tarde, compôs a cantata Pátria (1885), o poema sinfónico Uma Caçada na Corte (1885), a cantata As Orientais (1886), as óperas D. Branca (1888), Irene (1893) e aquela que é considerada a sua obra-prima Serrana (1899), a primeira ópera de temática nacional e popular apresentada no país.
Em 1890, aquando do ultimato britânico relativamente à partilha de África, Keilcompôs a música de A Portuguesa, um canto patriótico para o qual Henrique Lopes de Mendonça criou os versos e que se tornaria muito popular. Em 1911, a Assembleia Nacional Constituinte adoptou-o como o hino nacional.
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